November 03, 2025

Talvez a ganância tenha jogado um papel neste teatro

 

As universidades querendo mais doutorandos para terem mais propinas a entrar. Esse facto ter baixado o nível dos doutoramentos - basta ir ver os milhões de papers de baixa qualidade que nos dias de hoje se produz sobre tudo e mais um par de botas, da autoria de doutorados em qualquer coisa de qualquer maneira- e ter saturado o mercado de trabalho.
Aquilo que era para ser um aprofundamento de um tema para criar um grande especialista numa área académica e/ou de investigação prática transformou-se em mais um grau académico a untar aos outros.
Um doutoramento sério numa universidade séria, é extremamente difícil de conseguir em termos de trabalho, de stress e de desgaste mental. Não é para toda a gente que concluiu o mestrado, que nos dias de hoje passou a ser apenas mais um ano de curso, ao contrário do que costumava ser - mas isto não faz parte da decadência da educação que Castoriadis previa já nos anos 80 do outro século e, antes dele, Nietzsche?
Primeiro vulgarizaram-se os mestrados ao ponto de se chamar tese a uma coisa qualquer com o nível do que costumava ser um trabalho do secundário. Depois baixou-se o nível das licenciaturas para que qualquer um pudesse entrar e fazer cadeiras semestrais superficiais de tópicos disto e daquilo e ficar com una lamirés dos assuntos e agora está em curso a mediocrização do secundário a estes novos alunos de escrita sem verbos e com emojis.
Li que a Universidade de Lisboa vai criar um curso para pôr alunos com dificuldades de aprendizagem no mercado de trabalho. Acho excelente que haja cursos dirigidos para essas pessoas com dificuldades específicas, mas isso é próprio de cursos profissionais de escolas profissionais, orientados exclusivamente para o trabalho. O fim da universidade é o desenvolvimento e aprofundamento do conhecimento para benefício comum. 


A pausa nas admissões de doutorados é uma bênção disfarçada

A superprodução de doutoramentos nas Ciências Humanas arruinou o mercado de trabalho.

Em Agosto, a Universidade de Chicago anunciou que iria suspender as admissões na maioria dos seus programas de doutoramento em Artes e Humanidades. A decisão de Chicago levou Tyler Austin Harper, da revista The Atlantic, a perguntar: «Se nem mesmo Chicago está disposta a apoiar e proteger as Artes e as Letras americanas, quem o fará?» 

A questão só ganhou urgência. A Universidade Brown anunciou recentemente a suspensão das admissões de doutoramento em seis departamentos, incluindo clássicos, antropologia e francês. E, na semana passada, a Universidade de Harvard reduziu em cerca de 60% as vagas de doutoramento em Artes e Humanidades.

Como jovem historiador, acredito que essas instituições estão a adoptar uma abordagem pragmática em relação à actual crise das Humanidades.

Sem segurança profissional e sem recompensa pelos sacrifícios, os recém-doutorados ficam à mercê de um sistema cujas práticas de contratação são dominadas por preferências, favoritismo e pensamento de grupo.

O avanço da inteligência artificial tende a tornar isso ainda mais difícil. Uma pesquisa recente da Microsoft sugere que as 40 profissões mais ameaçadas pela IA incluem historiadores, cientistas políticos, matemáticos, economistas, geógrafos e professores universitários de biblioteconomia. Também estão na lista intérpretes, tradutores, escritores, jornalistas, editores e arquivistas — exatamente os tipos de cargos que costumavam ser os principais destinos não académicos para recém-doutorados. 

Isso não quer dizer que pensadores criativos e originais não serão necessários no futuro, e os estudantes de humanidades tendem a ser exatamente isso. No entanto, neste momento, parecemos estar numa fase de ajustamento em que a IA produz redundâncias em vez de criar novas oportunidades.

A investigação nas Ciências Humanas deve ser apoiada e protegida, mas não à custa de os licenciados passarem anos a seguir um caminho que não lhes pode oferecer dignidade profissional e financeira. Num mundo ideal, impedir alguém de entrar no curso dos seus sonhos pode parecer injusto; no mundo real é uma bênção disfarçada para uma geração que merece perspectivas sérias e tangíveis.

As decisões tomadas em Chicago, Brown e Harvard são uma confissão muito necessária sobre o estado das Humanidades académicas. As coisas não têm funcionado no meio académico há muito tempo — e não estão a melhorar. Avaliar a situação das Humanidades com honestidade e pragmatismo é o primeiro passo para a mudança e a reforma, ambas extremamente necessárias para o futuro das humanidades.

By Maddalena Alvi in https://www.chronicle.com

No comments:

Post a Comment