O tempo deixa completamente nervoso e aterroriza o narrador e protagonista de O Retrato de Dorian Gray, ambos descrevendo-o como «horrível», o adjetivo mais repetido no romance. Henry Wotton avisa o adolescente Dorian Gray que um dia ficará «velho, enrugado e feio» (Capítulo 2), uma combinação de termos inimaginável em Ruskin.
Escondendo o retrato que envelhece para que ele não precise envelhecer, Dorian reflete que «poderia escapar da hediondez do pecado, mas a hediondez da idade estava-lhe reservada» (Capítulo 10, repetido no Capítulo 11), o futuro uma armadilha evitada apenas pelo engodo da arte.
Mais tarde, enquanto Dorian medita sobre o seu precioso «livro venenoso», reflete sobre «a ruína que o tempo trouxe às coisas belas e maravilhosas» (Capítulo 11), usando o termo «ruína» de forma depreciativa, ao passo que Ruskin o usa de forma elogiosa.
Mais tarde ainda, ao recordar a sua vida aos trinta anos, ele reflete que «a Memória, como uma doença horrível, estava a consumir a sua Alma» (Capítulo 16). Finalmente, assombrado pelas mortes de James, Sibyl Vane e Basil Hallward, quando Dorian contempla o seu retrato muito alterado, «da caverna negra do Tempo, terrível e envolta em escarlate, surgiu a imagem do seu pecado» (Capítulo 18).
Na sua antipatia cada vez maior pelo tempo, Dorian inclina-se cada vez mais para a teoria estética de Arthur Schopenhauer, cuja resposta à neutralidade ontológica da estética de Kant é o oposto da de Ruskin. Enquanto para Ruskin o ser é inerentemente belo na proporção da sua persistência, para Schopenhauer, em O Mundo como Vontade e Representação (1818, ampliado em 1844), ser humano é dificilmente compatível com ser belo. Cito-o com alguma extensão:
Quando dizemos que uma coisa é bela, afirmamos assim que ela é um objeto da nossa contemplação estética, e isso tem um duplo significado; por um lado, significa que a visão da coisa nos torna objectivos, ou seja, que ao contemplá-la não estamos mais conscientes de nós mesmos como indivíduos, mas como puros sujeitos de conhecimento sem vontade; e, por outro lado, significa que reconhecemos no obcjeto, não a coisa em particular, mas uma Ideia [...] Pois a Ideia e o sujeito puro do conhecimento aparecem sempre de imediato na consciência como correlatos necessários, e com o seu aparecimento toda a distinção de tempo desaparece [...]Bruce Gardiner in sydneyreviewofbooksPortanto, se, por exemplo, eu contemplar uma árvore esteticamente, isto é, com olhos artísticos, e assim reconhecer, não ela, mas a sua Ideia, torna-se imediatamente irrelevante se é esta árvore ou a sua antecessora que floresceu há mil anos, e se o observador é este indivíduo ou qualquer outro que viveu em qualquer lugar e em qualquer época [...] E a Ideia dispensa não só o tempo, mas também o espaço, pois a Ideia propriamente dita não é esta forma especial que aparece diante de mim, mas a sua expressão, o seu significado puro, o seu ser interior, que se revela a mim e me atrai, e que pode ser exatamente o mesmo, embora as relações espaciais da sua forma sejam muito diferentes. (Livro 3, §41, trad. Haldane e Kemp [1909])
(excerto)
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