October 05, 2025

Dia do professor II

 

A minha escola tem, neste ano lectivo, 33 nacionalidades, entre os alunos. Tem duas professoras de Português Língua Não Materna. As turmas de PLNM têm, não 4 ou 5 alunos, mas 15, 18 ou 20, se for preciso, misturados (do 7º ao 12º ano) e de vários níveis - os alunos são classificados por níveis consoante o domínio que têm da língua. 

É claro que as técnicas para ensinar alunos do 7º são diferentes das técnicas para ensinar alunos do 12º ano e as usadas para alunos que não sabem uma palavra de Português e não falam outra língua que não a sua, são diferentes das técnicas que se usam para um aluno de língua espanhola ou outro que já cá está há um ano, por exemplo.

Acresce que os horários passaram a ter uma enorme complexidade, que obriga a compromissos pedagógicos, para que se consiga libertar todos esses alunos do 7º ao 12º ano, de aulas de Português para irem ter PLNM ao mesmo tempo. Significa, por exemplo, pôr 18 turmas com Português ao mesmo tempo.

Só à minha conta, tenho este ano alunos da China (um só fala mandarim, nem inglês fala), da Rússia, da Ucrânia, do Cazaquistão, da Venezuela, do Senegal, da Índia, do Brasil e de Angola. Naturalmente estão em níveis de domínio da língua muito diferentes, o que significa fazer avaliações diferentes consoante o nível deles e ter planos de trabalho diferentes. 

Agora imagine-se que tinha seis turmas ou sete como muitos professores têm mais horas extraordinárias para não haver turmas sem professores e várias turmas com alunos estrangeiros. Nem sequer estou aqui a juntar alunos com necessidades especiais, como autistas ou alunos com vícios em redes sociais, pornografia ou comportamentos desviantes graves, que exigem muito dos professores em termos de desgaste emocional. Ou professores que vêm de longe - temos um professor, com filhos, que vem do Porto

Isto é o que o anterior ministro, Costa, chamava de inclusão: 'incluir' todos os alunos de qualquer maneira nas escolas e dizer aos professores, 'desenrasquem-se'. O termo é este mesmo porque trata-se de criar para as escolas uma situação completamente enredada de problemas complexos e graves e depois voltar as costas e deixá-los completamente sozinhos a fazer de médicos, psicólogos, tradutores culturais, conselheiros de carreiras, gestores de delinquentes, instrutores, educadores, etc., tudo ao mesmo tempo, enquanto se lhes exige que formem alunos, ensinem, eduquem naquilo que os pais não quiseram educar, transformem-nos em pessoas curiosas, profissionais de brio, cidadãos exemplares.

Fazer cada vez mais com menos, para usar a expressão do ex-ministro Crato, que até nos tirou o direito aos intervalos.

Porque é que a maioria dos professores mais velhos conta os dias para ir embora e os mais novos pensam mudar de profissão...?


1 comment:

  1. Cazaquistão - terra dos cazaques. Como Uzbequistão (terra dos uzbeques); Quirguistão (terra dos quirguizes).

    João Moreira

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