September 10, 2025

Quando as regras se tornam um fim em si mesmo II

 

No nosso sistema educativo o caso de se ter sacrificado a pedagogia ao cumprimento rigoroso de regras processuais, esvaziou o processo educativo de mérito. E os resultados estão à vista. Este ano, os alunos do 6º ano estão ao nível do 4º no que respeita ao domínio da Língua Portuguesa e os do 4º ano sabem mediocremente, Português e Matemática.

O objectivo de sobrecarregarem o ensino com regras processuais foi o mesmo que é descrito no artigo do post anterior: reduzir a arbitrariedade, aumentar a igualdade. Para esse fim, implantou-se um sistema de total controlo dos professores, através de processos burocráticos, sobretudo no que respeita à avaliação. 

Por exemplo, a ministra Rodrigues obrigava a que todos os professores do país, dissessem certas frases aos alunos, durante os exames, exactamente à mesma hora; o ministro anterior, Costa, redigia textos gigantescos e improdutivos para as escolas com regras de como os professores devem acender a luz ou algo do género e este ministro instaurou uma burocracia que implica fazer reuniões do Conselho Geral (um orgão que tem pais, representantes da Câmara e outros membros exteriores à escola), sempre que um professor quiser dizer a palavra 'sexo' nas aulas.

Os exames foram sendo reduzidos a escolhas múltiplas para que nenhuma resposta pudesse ter a correcção, que tem sempre algo de subjectivo, do professor e serem todos avaliados igualmente. O valor 'igualdade' está agora muito acima do valor, 'educação'. O problema é que esse tipo de avaliação não incentiva ao melhoramento pessoal (nem formativo nem de conhecimentos e competências), como sacrifica os melhores alunos, aqueles capazes de mostrar conhecimento e técnicas de modo extremamente competente, personalizado e original. À força de quererem anular a subjectividade inerente ao processo avaliativo, promoveram a mediocridade a norma. 

Do mesmo modo os professores gastam horas infindas a introduzir dados em plataformas de controlo do seu trabalho. A Rodrigues chamava-lhes «evidências» e avaliava os professores pelo número de evidências apresentadas. 

Resultado: tarefas que são comuns no âmbito de uma disciplina, como por exemplo, organizar sessões de argumentação na Filosofia, passaram a ser feitas de maneira a que pudessem depois ser introduzidas em plataformas em forma de evidências, sacrificando o próprio processo de aprendizagem dos alunos. Esse grande erro continua e ainda agora, se falamos com um colega num intervalo sobre avaliação ou currículos ou outra coisa qualquer, ele depois produz uma folha com a descrição da conversa e põe no seu relatório de avaliação como evidência de qualquer coisa, por exemplo, "promoção da qualidade do desenvolvimento dos currículos através da discussão..." Era de tal maneira que havia quem escrevesse 20 páginas no seu relatório de avaliação para mostrar muitas «evidências» e teve de legislar-se para não deixar que se escrevessem mais de 3.

Melhor seria que a Rodrigues tivesse criado estruturas de gestão escolar superiores, médias e intermédias, capazes de se responsabilizar pelo trabalho e inspecções independentes e pedagógicas (agora o que temos são inspectores que foram directores de escolas e são amigos deste e daquele) com critérios objectivos. Mas não, o que ela e os seguintes queriam era mesmo controlar os professores até ao absurdo.

Agora temos esta escola que trabalha muito para os papéis, pouco para os alunos e o resultado é a mediocridade. E todos fogem da profissão.

Dantes tínhamos um sistema educativo que sacrificava os que menos podem e têm e favorecia as elites, depois tivemos, durante um tempo, um sistema onde os que menos podem e têm tinham acesso, através da educação, ao elevador social, hoje temos um sistema que sacrifica os melhores para conforto dos mais medíocres. As elites saíram da escola pública.


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