August 02, 2025

Livros - Filho do Hamas

 


Vou a meio do livro. Não consigo ler muito de cada vez porque estou com uma inflamação grande num dos olhos e vejo tudo nublado.

O livro é muito bom. É o relato do seu percurso intelectual, religioso, moral e político. Nesse sentido particular faz lembrar o Discurso do Método de Descartes. À medida que avança no livro vai revelando as razões da sua transformação interior pelo relato dos acontecimentos da sua vida e como os experenciou.

Ele escreve o livro para o público mas em primeiro lugar para o seu pai, por quem tinha uma grande adoração, desde muito miúdo. Está a contar ao pai -e a justificar-se- o percurso que fez e o trouxe onde está.

Mosab Ypusef explica como nasce o Hamas. Nasce de um erro dos israelitas e depois ele viu o pai ser preso muitas vezes, torturado, afastado da família. Aos 18 anos, revoltado contra os israelitas resolve com um primo comprar armas. Como são muito novos, fala com o primo sobre as armas usando o telemóvel do pai e, é claro, vai preso porque os israelitas ouvem tudo.

O campo de prisioneiros está dividido por facções, a do Hamas, a da Jihad Islâmica, a do Movimento de Libertação da Palestina, etc. e todos têm que escolher uma mesmo que não tenham nenhuma. Ele escolhe o Hamas, por causa do pai e do tio que está lá preso e que ele descreve como um tipo hipócrita, enorme e brutal, capaz das piores crueldades gratuitas. A prisão é o sítio onde ele pela primeira vez vê o que é o Hamas.

As secções são dirigidas pelos próprios e os dirigentes do Hamas são carrascos do seu próprio povo dentro da prisão: tortura, sevícias sexuais, crueldades bárbaras. A ele não lhe tocam por ele ser filho de um dirigente do Hamas. 

É também dentro da prisão que ele contacta pela primeira vez com israelitas, com comunistas, com liberais e outras ideias para além do Alá do Islão e começa a pôr em causa os métodos do Hamas e a própria interpretação de um Islão bárbaro e cruel que quer a guerra pela guerra - ele acha muitas das regras e preceitos do islão do Hamas sem sentido nenhum e atávicos. Começa a distanciar-se. 

O Movimento de Libertação da Palestina, diz ele, luta por um Estado palestiniano; o Hamas luta por um Estado islâmico e a eliminação dos judeus. 

Entretanto os israelitas, que lhe propõem ser espião do Hamas, percurso que ele faz aos pouco e à medida que vê a brutalidade do Hamas, tratam-no com mais humanidade que o seu próprio povo. Aos 20 anos vai estudar na Universidade por incentivo e com o dinheiro dos israelitas e começa a sua 'carreira' de espião. Está numa altura da vida em que quer aprender e tomar contacto com outras ideias, outras religiões e o mundo fora daqueles muros mentais..

Fica-nos a ideia de que os palestinianos vulgares estão fechados na religião e no islamismo e têm uma visão do mundo apertadinha e medieval. É a religião, mais a religião e só a religião.

O pai, ele não o entende, porque conta que ele é uma pessoa inteligente, extremamente gentil em casa e com toda a gente fora de casa, incapaz de matar, mas ao mesmo tempo assina de cruz todas as barbaridades do Hamas com as quais concorda.

Enfim, vou a meio e tenho muita curiosidade em saber do resto do percurso.


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