Um filme de horror - lares como casas de tortura
Atam os idoso às cadeiras, às camas, aos corrimões, atam-lhes pulsos, pernas e tronco, drogam-nos. Chamam-lhes contenções. E para quê? Para estarem descansados ao telemóvel? Isto é um relato de tortura. As pessoas são capazes de tudo...
E foi preciso um 'estudo' para concluírem que ser submetido a tortura psicológica causa problemas de saúde mental e física.
Estudos internacionais anteriores concluíram que as contenções físicas também podem causar danos diretos: um estudo de 2018 com pacientes de unidades de cuidados intensivos constatou que quase 40% das pessoas contidas desenvolveram delírio — um estado de confusão súbita. Uma revisão bibliográfica de 2014 apurou que as contenções impactavam negativamente o bem-estar psicológico e eram um fator de risco para futuros problemas de saúde. Outra revisão comprovou haver uma relação entre as contenções físicas e o desenvolvimento de síndrome de stress pós-traumático.
(...) Pouco falta para fazer dois anos desde o dia que Gustavo (nome fictício) não esquece: aquele em que deixou a casa de sempre para ir viver para um lar. Mas na instituição que lhe calhou, que o homem de 87 anos prefere não nomear, assistiu a situações de contenção física a outros utentes. “Havia um senhor que estava sempre amarrado à cadeira de rodas”, descreve. “Ele pedia para o soltarem e por vezes desamarrava-se. Então, elas amarravam-no a uma coluna do edifício”, recorda. “Eu tinha pena do homem.”
Carla Ribeirinho, professora no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, identifica como principal obstáculo à mudança “as ideias estereotipadas de que as pessoas mais velhas são incapazes”, o que leva a uma infantilização e paternalismo nas intervenções. A também consultora e supervisora de equipas técnicas em lares, sublinha que “a estratégia para o envelhecimento está na gaveta há quase um ano” e critica um Estado Social que “se retrai na criação de políticas públicas” e uma Segurança Social que “não dá respostas”. Ainda assim, ressalva, a responsabilidade não é apenas do Estado. “A culpa é também de todos nós, porque alimentamos este silêncio.”
expresso.pt/amarrar-idosos para não chatearem-faz-parte-da-rotina-invisivel-dos-lares
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