As primárias democratas para o candidato a mayor de Nova Iorque são um bom case study da esquerda atual.
Maria João Marques
Andrew Cuomo. Antigo governador do estado de Nova Iorque. Foi afastado nos anos do #MeToo. Veio a saber-se, através de denúncias de várias mulheres, que tocava em excesso nas colaboradoras, as apalpava no rabo e nas mamas, mantinha conversas sexualizadas inapropriadas e, claro (é um clássico), que as perseguia se estas levantavam problemas.
Uma investigação do Departamento de Justiça americano concluiu: "Cuomo e o seu staff mantiveram 'um padrão ou prática de discriminação contra trabalhadoras femininas com base no sexo' e descobriu que retaliaram contra as mulheres."
[Cuomo] processou uma das mulheres que o denunciou. O #MeToo aconteceu pela falência organizacional e judicial a lidar com casos de assédio sexual em contexto laboral, pelo que os assediadores cedo perceberam que é fácil usar o sistema judicial contra as mulheres.
E foi este político um dos candidatos às primárias democratas para mayor de Nova Iorque. Ah, mas um assediador não é um caso geral. Bom, lamentamos, mas a esquerda está demasiado carregada de homens que se proclamam muito feministas e, afinal, são uns labregos (uso um eufemismo) nas relações com as mulheres. Podia ir a Bill Clinton, mas prefiro o caso espanhol, mais próximo. O escândalo de corrupção que corrói o PSOE, e levou Santos Cerdán à prisão preventiva por estes dias, não se esgota na corrupção. Um dos instrumentos do pagamento e aliciamento da corrupção foi o uso de prostitutas pelos altos militantes do PSOE. Isto, claro, enquanto se declaravam um partido progressista e até defensor das políticas abolicionistas da prostituição. O feminismo dos homens de esquerda é um teatro, tanto mais vazio quanto publicamente efusivo.
Donde, não levo a mal a ninguém ter desejado a derrota de Andrew Cuomo nas primárias para Nova Iorque. Eu também desejei. Mas seriam de evitar entusiasmos com o vencedor Zohran Mamdani.
Mamdani é o que os americanos chamam de "nepo baby". Um filho de nepotismo. Filho da aclamada (e rica) realizadora indiana Mira Nair, vinda ela própria de uma família de elite da administração civil da Índia britânica, e de um académico de prestígio da Universidade de Columbia de origem indiana, cuja família emigrou para o Uganda e lá enriqueceu
Nunca teve um emprego tradicional. Foi rapper, depois entrou para as campanhas políticas.
E depois há a Palestina, a grande causa de um "nepo baby" que teve a vida toda facilitada. As mensagens de Mamdani estão já bem dentro do antissemitismo.
Em suma, estas primárias trouxeram o que a esquerda tem de pior. O machismo mascarado de progressismo. As ideias alucinadas de meninos elitistas que se veem como Messias dos descamisados. A islamofilia. O complexo de culpa colonial (ou, no caso dos Estados Unidos, descontando as Filipinas, complexo de culpa imperial). O amoroso apologismo do terrorismo que não condena o mantra da "globalização da intifada". O extremismo pueril. Tanto que os eleitores mais novos aderiram em massa.
Eric Adams, o atual mayor que se candidata como independente, já deu tom à campanha: trata-se de "uma escolha entre um candidato de colarinho azul e um de berço de ouro", descrevendo Mamdani como "membro de assembleia que nunca passou uma lei". Mas pior do que a "silver spoon", são as ideias repelentes de Mamdani. As primárias de Nova Iorque deviam funcionar como alerta tóxico para a esquerda; ao invés, criaram um novo ídolo.
(excertos)
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