António Barreto escreve este artigo a prezar as virtudes do Bloco Central que governou o país entre 1982 e 1985, mas não leva em conta, nem a evolução do país, nem a evolução da ideologia dos partidos, nem as personalidades que se juntaram nele.
O Bloco Central foi liderado por Mário Soares do PS. Mota Pinto era o nº 2. Nem poderia ser de outra maneira porque Soares nunca seria nº 2 de outro qualquer. Se se fizesse agora um Bloco Central, quem quereria ser o nº 2? Montenegro aceitaria ser o nº 2 de PNS? Não me parece. E PNS aceitaria ser o nº 2 de Montenegro? Não me parece.
Em segundo lugar, o PS e o PSD de então eram partidos muito diferentes e o facto de terem feito uma coligação para governar não os diluiu, mas nos dias que correm quando as ideologias do centro pouco se distinguem umas das outras e esses dois partidos têm práticas governativas tão idênticas, ao fim de um tempo associados no poder haviam de embrenhar-se um no outro e fazer uma só força hegemónica permanente e predadora do país. Há esse risco muito grande. Imagine-se um BC com Sócrates à cabeça e sem ninguém para se lhe opôr. Ou com PPC sem oposição.
Em terceiro lugar, em 1982 não estávamos na UE. As nossas condições eram sempre piores.
Dito isto, penso que devia haver acordos em certas áreas políticas entre esses dois partidos para que não se sabotassem constantemente prejudicando o país. Neste momento o Parlamento inglês está reunido para fazer um acordo entre os dois partidos que salve o aço inglês. Nós precisamos de acordos políticos entre os dois maiores partidos relativamente a certas áreas fundamentais do país - como aliás foi feito recentemente na questão da imigração - e para certos dossiers como o do aeroporto. Essa é uma responsabilidade desses partidos e a sociedade devia pressioná-los a dar passos nesse sentido.
O mal-amado
O Governo do Bloco Central teve excelente e péssima actuação. No conjunto do seu mandato, foi mais útil do que prejudicial ao país.
António Barreto
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