Recuso ser visto por um médico que só quer fazer 150 horas extraordinárias
Henrique Raposo
Lendo e ouvindo Eduardo Barroso, a minha conclusão é esta: recuso ser visto por médico que só quer fazer 150 horas extra, porque esse médico é medíocre e, por arrasto, perigoso para o doente.
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Há um mês fiz uma cirurgia a uma das cordas vocais que está paralisada devido ao efeito dos tratamentos de radioterapia que fiz há uns anos para o problema oncológico. Não é em si mesma uma grande cirurgia, leva pouco mais de 1 hora, mas mete anestesia geral e é uma grande cirurgia para mim porque dela dependia a minha qualidade de vida. Um professor é um profissional da voz e estar permanentemente disfónica ou mesmo sem voz, impede-me o trabalho, impede-me a comunicação normal, põe-me num estado de stress permanente, o que ainda piora mais a voz e causa-me grande transtorno à vida.
Na consulta com o cirurgião em que me marcámos a data da cirurgia, ele perguntou-me se dia x estava bem para mim e respondi-lhe que sim mas que agradecia que marcasse o mais cedo possível, antes de estar cansado e farto de aturar doentes. Ele riu-se e disse-me que isso não ia acontecer, mas marcou-me cedo como pedi, tendo antes de mim apenas uma criança, porque opera sempre as crianças em primeiro lugar. Fiquei logo mais descansada.
Se eu tivesse seguido medicina, penso que nos primeiros anos, teria trabalhado muitas horas extra para 'ver' o maior número de casos possível e ganhar o máximo de experiência, mas não penso que isso possa ser feito durante toda a vida profissional. A idade tira energia, os médicos têm direito a ter vida própria e não ser escravos do trabalho e os doentes têm direito a não ser tratados por alguém que está sempre à beira da exaustão e, por isso, é mais vulnerável a cometer erros.
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