Estava lá no Alentejo. Sei o que andavas lá a fazer, com o conluio de capitães de Abril como Otelo, que dava mandatos de captura em branco aos amigos que quisessem roubar qualquer coisa ou vingar-se de alguém que não gostavam. Mas não só Otelo. Sei como andavas a manobrar os trabalhadores com ameaças a quem não se juntasse às comissões de revolucionários extremistas para construir a Cuba da Europa. Sei como organizaste processos à maneira soviética. Vi-os com os meus próprios olhos e passei por um deles. Vi os processos com que se quis conduzir o país para uma ditadura de revolucionários que queriam a todo o custo evitar um Parlamento democrático, depois do resultados da votação para a Assembleia Constituinte em Abril de 1975, onde o PCP e as forças, auto-intituladas revolucionárias, que se opunham publicamente a um processo democrático no país (veja-se a entrevista de Otelo), perderam em grande linha. Sei que não aceitaram esse voto democrático popular e quiseram impor a vossa ditadura à força de perseguições, saneamentos, distribuição de armas à populaça e incentivo à divisão entre os portugueses. Também me lembro de ver Pezarat Correia ao lado de Otelo. Lembro-me de o ver em Évora, de botas altas e pingalim. Não era o democrata que agora diz ser. Não sei o que se passava no Norte do país em pormenor, mas sei o que se passava a Sul e a mão que o PCP teve nos desmandos todos. Houve mortes. E não houve mais porque o povo em geral não queria outra ditadura, nem violência, nem extremos, nem queria o PCP e os extremistas da foice e martelo, como ficou claro nas eleições do ano seguinte, 1976, já após o 25 de Novembro, onde até o CDS ficou à frente do PCP e de todos os partidos que queriam impor a ditadura revolucionária da foice e do martelo, como uma prova inequívoca que o povo apoiou o 25 de Novembro e o seu espírito democrático (lembro-me da guerra entre o PCP e os outros partidos à esquerda sobre quem é que podia usar esse símbolo soviético na campanha eleitoral).
De maneira que só mesmo os partidos mal resolvidos e parados no seu ressentimento da derrota pelo voto democrático é que defendem que o 25 de Novembro foi um golpe da direita contra o 25 de Abril, quando foi o oposto, foi um golpe que nos repôs no caminho daquilo que foi a esperança do 25 de Abril para o povo: uma vida em democracia e em liberdade. E o que mais me espanta é o PS, que foi quem liderou, na pessoa de Mário Soares, essa vitória da democracia sobre a tentativa de impor a ditadura comunista, venha agora juntar-se a vozes não-democratas contra um acontecimento que evitou cairmos nas mãos de pequenos sovietes.
25 de Novembro assinalado no Parlamento de olhos postos na comparação com Abril
Sessão solene copia a que homenageia a Revolução. Estreia da comemoração que a direita costuma chamar a si ficará marcada por ausências políticas e de militares de Abril.
Já se sabe que nas bancadas do plenário não estarão os quatro deputados do PCP e que no espaço do Bloco irá comparecer apenas uma dos seus cinco parlamentares - cujo discurso "se resumirá a denunciar a operação de desvalorização do 25 de Abril, data fundadora da liberdade e da democracia".
À Lusa, o general Pezarat Correia justificou que "o 25 de Novembro que se está ali a comemorar não é o 25 de Novembro" em que ele próprio participou. "Fala-se que se pôs um ponto final num confronto, quando do outro lado estavam todos presos ou saíram para o exílio", afirmou. "A democracia conseguiu-se, não por causa do 25 de Novembro, mas apesar do 25 Novembro." "Logo a seguir, em Abril de 1976, aprovou-se a Constituição revolucionária e as conquistas estavam lá, embora depois disso ela tenha sido adulterada e abandonada por força do processo que se foi seguindo", acrescentou.
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