September 16, 2024

Educação: o novo normal

 


Numa das minhas turmas de 11º ano entraram, um venezuelano que já vivia no Chile há um ano, fugido do Maduro -perguntei-, uma rapariga da Estónia e um refugiado ucraniano. O venezuelano e a estoniana falam e percebem inglês (entendi-me com eles em inglês) mas o ucraniano, que ainda não conheço, porque não foi à aula, dizem-me os miúdos que nem portugês, nem inglês. Pode ser que fale francês ou espanhol - punha-o com o venezuelano. Enfim, a turma tem uma garota da Moldávia que viveu em Londres. Fala bem o inglês e desenrasca-se no ucraniano, mas essa já está ao lado da estoniana, para ir traduzindo o que digo. Nenhum deles alguma vez ouviu falar de filosofia. Enfim, vou ter que trabalhar com essas alunos em parte, por email: enviar documentos, links para vídeos, etc. para ver se chegam às aulas com uma noção do que se passa - o ucraniano, francamente, não sei como vai ser porque não falo ucraniano. Disse à turma para falarem com eles o mais possível. Vou deixá-los usar o telemóvel nas aulas para traduzirem tudo e vou fazer trabalhos e testes diferentes para eles, mas é tudo uma remediação. Uma colega disse-me que no ano passado tinha um indiano que não falava inglês. Há uma turma que tem uma dezena de alunos imigrantes que não falam português. Quando saí da aula estava à porta da sala, uma rapariga de hijab. As escolas têm falta de intérpretes e assistentes culturais porque este é o novo normal da escola pública.


3 comments:

  1. Eu tenho um miúdo no 10.° que não fala uma palavra de outra língua que não ucraniano. Assim sendo, vou ter de ensinar os tugas e, ao mesmo tempo, esse aluno, como se se tratasse de um do primeiro ciclo. Francamente, não sei ainda como e o que vou fazer, porque o rapaz necessita, obviamente, que de alguém específico para ele .

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  2. Esses alunos, que frequentam LPNM, em vez de Português, não deveriam frequentar as aulas de Filosofia, Biologia, História, etc. É uma violência para eles... No primeiro ano, chegados a Portugal, deveriam frequentar um curso intensivo de Português... Além de Educação Física e/ou Inglês, se conseguirem comunicar minimamente. A equipa EMAEI deve analisar caso a caso.

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    1. Estou de acordo em terem aulas intensivas de PLNM, mas também me parece que beneficiam em estar imersos numa turma de pessoas da sua idade que falam com eles em português e a ouvir português todo o tempo. Aprendem rapidamente. Agora, têm de ter uma currículo e trabalho diferentes. Já no ano passado com o miúdo ucraniano trabalhei muito com ele por email. Enviava-lhe links para vídeos do youtube, resumos da matéria simplificados para ele trabalhar antes de chegar às aulas. Na aula trabalhava com o telemóvel, fazia testes e fichas diferentes diferentes para ele, sempre bilingues (português/inglês) e deixava-o responder em inglês - só que isto é difícil quando os professores têm muitas turmas cheias de alunos, porque requer muito trabalho diferenciado.

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