"O que nos leva ao paradoxo de hoje. Temos os drones prontos a voar. Dispomos agora de muitos HIMARS e ATACMS graças ao pacote suplementar aprovado pelo Congresso dos EUA. Mas estamos paralisados porque a política dos EUA dita que não estamos autorizados a utilizar munições americanas em território russo. Se o fizermos, arriscamo-nos a perder o futuro apoio militar dos Estados Unidos.
A Rússia sabe disso e ajustou as suas tácticas em conformidade. Incapazes de obter ganhos substanciais no leste da Ucrânia graças aos esforços heróicos de brigadas como a 92ª e muitas outras, os homens de Vladimir Putin estão agora a atacar Kharkiv, a apenas 30 quilómetros da fronteira russa.
Os projécteis de artilharia ucraniana alcançam apenas 25 quilómetros. Por sua vez, a Rússia colocou em segurança os seus sistemas de interferência, lançadores de mísseis S-300 e S-400 destruidores de cidades e centros de comando a cerca de 30 a 40 quilómetros da fronteira do lado russo. Assim, os seus soldados atacam-nos impunemente. Embora as nossas FPVs pudessem alcançar sete a 10 quilómetros para além da fronteira para deter soldados e veículos inimigos, isso não é possível a menos que consigamos desativar os seus bloqueadores. Não temos qualquer proteção contra os jactos russos, que estão agora a lançar “bombas planadoras” maciças e a recuar para o outro lado da fronteira.
Não há nada pior - nada mais irritante na linha da frente - do que dizerem aos meus homens para protegerem a Ucrânia, a Europa e o Ocidente com uma mão atada atrás das costas. Faz-me lembrar aquela cena do filme “Braveheart” em que os escoceses gozam com os britânicos antes da batalha - alguns soldados chegam mesmo a mostrar as nádegas. É isto que os russos estão a fazer ao Ocidente neste momento.
Se nos fosse dada luz verde, as Forças Armadas ucranianas poderiam facilmente destruir os bloqueadores de drones, os centros de comando e os locais de lançamento de mísseis com HIMARS e ATACMS. Sabemos onde estão todos eles. Poderíamos travar os invasores no seu caminho e garantir que mais nenhuma cidade ucraniana fosse reduzida a cinzas, na região de Kharkiv e não só.
Dentro de poucas semanas, líderes de todo o mundo reunir-se-ão em Berlim para a Conferência de Recuperação da Ucrânia, dedicada à “reconstrução a longo prazo” do meu país. Que ironia neste momento crítico. Se não formos autorizados a travar a Rússia, não restará nada para reconstruir.
Tenho dois pedidos simples.
1. Por favor, soltem-nos as mãos e deixem-nos lutar contra a Rússia para benefício de todo o mundo. Tal como atacamos posições em território ocupado, temos de poder atacar posições para lá da fronteira russa.
2. Ajudem-nos a proteger os céus. Precisamos de mais defesa aérea. E, claro, precisamos dos caças F-16 que há muito nos foram prometidos."
By Yuriy Fedorenko in washingtonpost.com
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Biden deu as armas aos ucranianos mas, em contrapartida, diz que não podem usá-las. Estão só ali para inglês ver. E porquê? Porque nos EUA estão convencidos que é preferível ter a Rússia como uma potência adversária no mundo do que a China ocupar esse lugar e para isso estão dispostos a sacrificar a Ucrânia. Para além de ser uma imoralidade, porque foram os principais obreiros do pacto de não-agressão que a Rússia fez com a Ucrânia como contrapartida de entregarem as armas nucleares e prometeram defendê-la em caso de violação da Rússia, ainda me parece um erro de estratégia muito grande porque, como dizem os ingleses, that ship has sailed. A situação em que a Rússia era um potência adversária era muito diferente de hoje. Hoje tem os países do Leste a lutar contra ela e muitos já na UE e, pior ainda, a situação da China já se alterou radicalmente.
Hoje li um artigo no washingtonpost sobre o como e o porquê dos EUA terem perdido a ascendência sobre a China que tinham através do soft power de aparecerem aos olhos dos chineses, depois da morte de Mao Tsé-Tung e da relativa abertura ao exterior, como um país onde tudo era desejável: a liberdade, a democracia, a tecnologia, o estilo de vida, a irreverência, etc. Isso mudou completamente com Xi: desde a crise financeira à era caótica de Trump, a China desenvolveu-se tecnologicamente e difundiu estrategicamente a ideia de que o Ocidente estava a declinar e o Oriente a erguer-se.
Xi promoveu activamente a ideia da força cultural da China e da sua superioridade social enquanto país de ordem e de coesão. Hoje-em-dia, os sites das redes sociais chineses estão cheios de vídeos dos crimes à mão armada comuns nos EUA, dos ataques armados às escolas, da desunião do Congresso, das tiradas xenófobas de Trump contra todo o mundo e em especial contra a China, etc. Xi promove a ideia de que os EUA são um país caótico, desunido e de decadência imperialista que já não têm, nem prestígio nem moral para liderar o mundo.
A China tem hoje a ambição e os meios de se tornar o principal adversário dos EUA económica, tecnológica e militarmente e os chineses já não vêem os EUA como uma Meca mas sim como um imperialista doente.
A Rússia levar a sua avante na Ucrânia não vai mudar isso. Isso já não tem volta atrás e quanto mais imoralmente se comportarem mais perdem a sua ascendência, o seu soft power. O que temos visto nesta guerra é que, de cada vez que os EUA e a UE endurecem a posição face à Rússia com passos concretos e não apenas palavras, a China recua no seu apoio à Rússia e outros países que se mantêm no limbo a observar também recuam.
A França e a Alemanha continuam a dar força à Rússia a pedido da China como contrapartida para negócios... Quanto mais cederem a Putin, directa ou indirectamente, mais problemas arranjam e mais fortalecem a China.
Imagine-se, se alguém nos EUA e na Alemanha tem essa coragem, a Rússia, esse país enorme, perder esta guerra, tirar o poder a Putin e ter forças sociais a quererem uma democracia, um país próspero e desenvolvido, parecido aos seus vizinhos. Imagine-se o efeito de contracção de ambição que isso teria na China e nos outros países ditatoriais do mundo. Era para isso que se devia trabalhar e não para manter países com terroristas como interlocutores com a esperança -inútil- de outros países ficarem menos fortes como adversários.
Se os EUA não se tivessem tornado neste país quase em guerra civil onde metade das pessoas apoiam um proto-ditador obsceno e imoral, não tinham perdido a ascendência que tinham na China e no mundo em geral, quando eram vistos como o líder moral do mundo livre.
De qualquer dos modos, o que isso nos dia a nós na Europa é que temos de nos fortalecer e tornar independentes enquanto bloco porque os EUA já não são um parceiro fiável. E só nos tornamos mais fortes com cooperação e coesão, de facto, e não com os países ricos a quererem tirar vantagens para si à custa dos outros, como fazem frequentemente a Alemanha e a França.
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