May 12, 2024

Em defesa da literatura

 





GandalfFrodo, come and help an old man. 

 - How is your shoulder?

Frodo - Better than it was.

Gandalf - And the Ring? You feel its power growing, don't you? I've felt it too. You must be careful now. Evil will be drawn to you from outside the Fellowship. And, I fear, from within.

Frodo - Who then do I trust?

Gandalf - You must trust yourself. Trust your own strengths.

Frodo - What do you mean?

Gandalf - There are many powers in this world, for Good or for Evil. Some are greater than I am. And against some I have not yet been tested.



Gimli - The Walls of Moria!

- Dwarf doors are invisible when closed.

Gandalf - Yes, Gimli, their own masters cannot find them, if their secrets are forgotten.

Legolas - Why doesn't that surprise me?

Gandalf - Now, let's see. Ithildin.

- It reads 'The Doors of Durin, Lord of Moria. Speak, friend, and enter.

Merry - What do you suppose that means?

Gandalf - Oh, it's quite simple. If you are a friend, you speak the password, and the doors will open.

- Annon Edhellen, edro hi ammen!
   Fennas Nogothrim, lasto beth lammen!


Pippin - Nothing's happening.

Gandalf I once knew every spell in all the tongues of Elves, Men and Orcs.

Pippin - What are you going to do, then?

Gandalf - Knock your head against these doors, Peregrin Took! And if that does not shatter them, and I am allowed a little peace from foolish questions, I will try to find the opening words.

- Ando Eldarinwa, a lasta quettanya, Fenda Casarinwa

Aragorn - The mines are no place for a pony.

Sam - Buh-bye Bill. Go on, Bill, go on. 
[soltou o cavalo que trazia]

Aragorn - Don't worry Sam, he knows the way home.

Aragorn [para Merry que atira pedras à agua]- Do not disturb the water.

Gandalf - Oh, it's useless! 

Frodo - It's a riddle. Speak 'friend' and enter.

- What's the Elvish word for friend? 

Gandalf - Mellon

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Grande pedaço de literatura. Tantas ideias inclusas neste diálogo e na cena que o compõe:

A vida como uma luta entre o bem e o mal; a tentação maligna do poder excessivo; a autonomia da vontade livre como uma força interior; a ideia de que existem forças do passado que ultrapassam a explicação limitada ao presente; a comunidade da língua como uma comunidade de espírito; as línguas antigas como um portal de acesso a um mundo antigo cheio de ensinamentos, mas perigos, também; a ideia de uma era, a era da magia e do sobrenatural, no limiar de se perder para sempre e das suas virtudes ficarem inacessíveis; a ideia de que a acção tem sempre consequências que não controlamos; a ideia da amizade ser mais forte que a adversidade; a ideia de que a união faz a força; a ideia de que as comunidades podem ser diversas (pessoas, elfos, Hobbits e anões de todas as idades) e colaborar uns com os outros para fins universais, comuns; a ideia de que, até o mais pequeno de entre todos tem valor e contribui para as soluções; a ideia de que, nos piores momentos, o humor tem uma virtude catártica ... e sei lá mais quantas... 

A literatura tem esse efeito de fazer interiorizar ideias e possibilidades, mesmo que na altura de ler não se esteja consciente do que se interioriza.

Lembro-me de ler, aí pelos 9, 10 anos, o David Copperfield e ficar com um sentimento forte acerca da injustiça social e do acaso no mundo; ler A Cabana do Pai Tomás e reforçar a ideia de injustiça social e acrescentar a ideia de não se poder julgar a virtude das pessoas pela cor da pele ou pela riqueza que se tem; ler o Black Beauty e desenvolver a empatia com os animais. Etc. 

Filmes como este, que fazem questão de ser fiéis ao texto da obra, ajudam muito a desenvolver o gosto pela literatura e distinguem-se daqueles filmes de aventura cujos diálogos e textos são simplistas, pobres e superficiais - neles, o que causa impacto é apenas a espectacularidade das imagens e não a força, os dilemas ou as lutas interiores das personagens e como as ultrapassam. (Não por acaso, os ucranianos usam muito as personagens e frases da obra de Tolkian para se referir à luta que travam contra a força maligna e destruidora de Putin e desta Rússia.)

Da mesma maneira, infantilizar os textos dos currículos escolares, em vez de expor os alunos à literatura de qualidade, tem como efeito educá-los para o simplismo e a pobreza das ideias, desde muito cedo, o que torna muito difícil que um dia mais tarde venham a ser actores válidos na construção de um futuro comum. E, é claro, nenhuma aplicação de smartphone (e muito menos redes sociais estupidificantes) substitui a educação e desenvolvimento da consciência e do pensamento, a empatia e o respeito pelos outros - apenas provocam emoções superficiais de pena, que passam logo na imagem/vídeo seguinte.

A «gamificação» de todo o ensino, que muitos pseudo-pedagogos defendem, é uma catástrofe. Se essa estratégia pode ser usada para certos problemas em certas áreas com proveito, alastrada a todas as situações de aprendizagem, é deformativa e não reformativa.

Em defesa da literatura: até aos 7 ou 8 anos aprendemos a ler para, a partir daí, usarmos a leitura para aprender. O maior recurso de aprendizagem que temos, há muito tempo que vem sendo destruído e substituído pela valorização da superficialidade e infantilidade pedagógicas.

2 comments:

  1. Esses filmes são espectaculares. Nunca li o livro, mas tenho pena porque geralmente os livros são melhores que os filmes. A minha filha diz que o Senhor dos Anéis é machista. O que acha disso?

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    1. Ainda vai a tempo de ler os livros 🙂
      Penso que não se pode interpretar a mentalidade das pessoas do tempo dele com os padrões da mentalidade actual. Num certo sentido, todas as pessoas até uma certa data histórica eram machistas, mesmo as mulheres. Eram educadas num certo padrão da sociedade e não tinham um termo de comparação de uma sociedade diferente. As sociedades eram religiosas (embora as religiões diferissem) e as religiões são extremamente machistas nas suas organizações sociais.
      Tolkien eram um medievalista da primeira metade do século XX (acabou o Senhor dos Anéis pouco tempo depois da 2ª Guerra), uma pessoa que vivia com a cabeça no mundo medieval onde quem era chamado para as guerras e para as batalhas eram os homens.
      No entanto, as mulheres que entram nas suas obras, tanto no Senhor dos Anéis como no Hobbit ou no Silmarillion são todas figuras fortes, cheias de coragem e sabedoria e nenhuma delas é maligna. Os homens é que são malignos, corruptores e corrompidos pela vaidade e desejo de poder.
      Portanto, dentro deste prisma, ele não era machista, era apenas uma pessoa com a mentalidade socio-cultural do seu tempo. Machistas são as pessoas 'deste' tempo que insistem em menorizar as mulheres e as profissões de mulheres, coisa que ele não fazia.

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