March 19, 2024

American Fiction - uma sátira que acerta em cheio

 

Uma aluna universitária critica o professor de Literatura por escrever no quadro um título de um clássico com a palavra nigger. Diz que se sente incomodada com a ofensa. O professor, que é negro, explica à aluna, que é branca, que não é possível estudar a Literatura Clássica do Sul americano sem dar com palavras, frases e expressões ofensivas mas que devem ser tomadas no contexto em que foram escritas. Ela não aceita a explicação. O professor diz-lhe, "se eu as aguento, com certeza também as podes aguentar". Ela pergunta porquê 😁 É assim que começa o filme.

O professor, a quem todos chamam Monk (porque o seu primeiro nome é Thelonious, mas também porque evoca a sua misantropia), é logo chamado à direcção onde lhe explicam que já há várias queixas de alunos que se sentem ofendidos com ele e mandam-no tirar uma licença para refrescar as ideias. 

Ele é um escritor respeitado mas pouco popular porque não escreve livros 'negros' que são os livros que as editoras querem, porque vendem: ambientes violentos de afro-americanos que falam em vernáculo e passam a vida a entrar e a sair da prisão. Monk irrita-se porque nas livrarias os livros dele aparecem sempre na secção dos livros afro-americanos e ele, que nem acredita na raça, escreve obras universais e não étnicas.

Também se irrita por as editoras terem essa expectativa esteoretipada do que deve ser um livro de um escritor negro, porque praticam, sem sequer perceberem, um racismo igual ao racismo de não os publicarem por serem negros, que é o de julgarem que um indivíduo, se nasceu com pele escura, é unidimensional e vive exclusivamente por, e para, essa questão.

Vai a Boston visitar a família. A mãe está com os primeiros sintomas de Alzheimer a progredir muito rapidamente, a irmã, que vive com ela e é médica, morre passados uns dias de ele lá chegar e o outro irmão, que também é médico, está com problemas porque a mulher apanhou-o na cama com um homem, expulsou-o de casa, ficou com os filhos e com mais de metade dos doentes -também é médica- sendo que vivem numa pequena cidade. 

Monk resolve escrever um livro, exageradamente estúpido e mau, de acordo com o gosto idiota e estereotipado das editoras. Escreve-o mesmo ridículo para ser uma espécie de bofetada satírica nas editoras. Ninguém percebe a ironia e o livro é logo um sucesso - quanto pior ele fala e mais estúpido é o seu comportamento, mais sucesso tem 😁 

Escreve o livro sob pseudónimo e nunca aparece em pessoa nas entrevistas. Inventa que fugiu da cadeia e é perseguido: as editoras e o público adoram. 😁

Porém, as coisas complicam-se comicamente quando ele faz parte de um júri literário sério e os outros membros brancos querem dar o prémio àquele livro estúpido que escreveu sob pseudónimo. Ele começa a tenta livrar-se do livro -aquilo era para ser um gozo- mas já não consegue porque está no top das vendas. 😁

Entretanto acompanhamos o drama da sua família, uma família normal com os problemas e as complexidades normais das famílias que nada têm que ver com a raça mas com o ser-se humano.

Muito bom o filme. Uma sátira ao absurdo a que se chegou na sociedade, em termos de comportamentos e linguagem que em vez de acabar com as desigualdades de direitos, substitui-as por outras desigualdades de direitos e preconceitos.

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