O deputado Rui Tavares tem todo o direito de pôr os filhos a estudar onde quiser. Mas se 90% dos deputados colocarem os filhos em escolas privadas, mais os senhores ministros e secretários de Estado, é evidente que temos um problema. Na verdade, temos dois. Em primeiro lugar, é um problema para as escolas, porque as elites, incluindo as de esquerda, afastam com os pés os serviços públicos que defendem com a boca. Em segundo lugar, é um problema para a ligação entre eleitos e eleitores, porque os próprios políticos deixam de sofrer na pele aquilo que qualquer pai ou mãe sofre há anos: falta de professores, falta de exigência curricular, notas artificialmente inflacionadas e muito pior ensino. E isto legitima a conversa do “nós” e do “eles”. Porque o “nós” e o “eles” é real.
Sendo eu liberal, é evidente que a solução não é acabar com o ensino privado, que quanto tem qualidade pode – e deve – servir como um modelo para a escola pública. A solução é deixarmo-nos de hipocrisias, pensarmos em modelos de integração dos mais desfavorecidos em escolas de qualidade (ainda que privadas), e pararmos com o discurso assistencialista da “melhor escola pública para os pobrezinhos” – enquanto os filhos dos privilegiados constroem em escolas de elite as amizades que lhes vão garantir empregos no futuro, mesmo que tenham menos capacidades do que o filho do padeiro de Portalegre. Se isto não é uma questão política, não sei para que serve a política.
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