Só no Sul e no Centro, 453 médicos pediram à Ordem declarações para sair do país este ano
Ana Mafalda Inácio. DN
2023 ainda não terminou e as Secções Regionais do Sul e do Centro da Ordem dos Médicos já receberam mais de 450 pedidos de declarações de good standing, exigidas aos profissionais que pretendem exercer fora de Portugal. Mais do que no ano de 2022. A Secção Norte não deu os dados da sua região. Mas para o bastonário os que são conhecidos refletem bem a "insatisfação" no SNS. E alerta para outro fenómeno: "Há médicos a abandonar a profissão."
Nos últimos cinco anos quase dois mil médicos pediram à Ordem dos Médicos (OM) declarações de good standing, uma espécie de certificação e de qualificação profissional que lhes permite exercer fora de Portugal, frequentar internatos da especialidade, estágios ou pós-graduações.
É preciso salvaguardar, no entanto, que nem todas as declarações pedidas correspondem de facto ao número de médicos que saem para emigração, "alguns acabam por não concretizar esse objetivo", explicaram-nos. A verdade é que desde o período da troika, altura em que se iniciou o movimento de "fuga" de médicos para o estrangeiro, os números de pedidos de declarações de good standing não tinham voltado a ser tão elevados como este ano, até novembro.
(...) pode dizer-se que este ano o país perdeu mais de duas centenas de profissionais. Ou, se quisermos, quase um milhar em cinco anos.
O cenário é tanto mais preocupante quanto para o internato da especialidade, a iniciar a 1 de janeiro de 2024, ficaram por preencher 406 vagas, o que quer dizer que mais de quatro centenas de jovens médicos, que acabaram o curso na faculdade, não optaram pela formação específica.
Mas as saídas não acontecem só por uma questão remuneratória", sublinha. "Os médicos estão a sair do SNS porque estão insatisfeitos, porque não se sentem bem e porque veem o SNS a desmoronar-se de dia para dia", argumenta ainda. O bastonário diz mesmo: "Sou médico há mais de 35 anos e nunca vi tanta insatisfação e desmotivação no serviço público, porque as pessoas não veem uma luz ao fundo do túnel e acham difícil que seja encontrada uma solução."
O médico, que há oito meses assumiu o cargo de presidente da OM, após ter sido responsável pela Secção Regional do Centro, explica que "é muito diferente estar numa instituição em que não nos sentimos reconhecidos do que numa, por exemplo do setor privado, que está em crescimento, onde há projetos que, mesmo pequenos, fazem o médico sentir que está a contribuir para melhorar os cuidados, a sua formação e a sua carreira.
(...) o bastonário considera que não, defendendo que "a formação médica em Portugal pode ter algumas falhas, mas é boa e reconhecida. O que leva estes jovens a quererem sair do SNS e de Portugal assim que acabam o curso tem a ver com as condições de trabalho, com a forma como são tratados, com o papel que lhes é dado nas instituições e com o reconhecimento e respeito que recebem, que é o que não sentem cá.
O bastonário confirma que "os médicos internos são aqueles que estão a ser chamados para colmatar as faltas dos especialistas e é cada vez mais normal que quando acabam a formação acabem por sair, por não quererem ter a vida que tiveram até ali". Daí, justifica, "haver um conjunto de médicos que prefere não fazer uma especialização, para não ter de estar a trabalhar no SNS, em determinados hospitais ou serviços, em condições muitas vezes degradantes". Ou seja, "são médicos que optam por ser prestadores de serviço para terem a possibilidade de escolher a instituição onde querem trabalhar".
Há médicos a abandonar a profissão
Mas o descontentamento seja no SNS seja na forma como se exerce a medicina está a levar a um outro fenómeno também preocupante e que pode prejudicar o SNS. "Há médicos a abandonar a profissão. São profissionais que tiraram uma especialidade e que deixam de ser médicos por não se sentirem completos no exercício da profissão", explica o bastonário, contando que "há colegas que não se sentem completos a trabalhar como trabalham, que sentem que a sua intervenção junto do doente já não é o que era, e acabam por se desmotivar de tal maneira que estão a sair da profissão. Alguns vão para áreas diferentes da da saúde, o que é bem demonstrativo da insatisfação e do descontentamento".
Nos últimos cinco anos quase dois mil médicos pediram à Ordem dos Médicos (OM) declarações de good standing, uma espécie de certificação e de qualificação profissional que lhes permite exercer fora de Portugal, frequentar internatos da especialidade, estágios ou pós-graduações.
É preciso salvaguardar, no entanto, que nem todas as declarações pedidas correspondem de facto ao número de médicos que saem para emigração, "alguns acabam por não concretizar esse objetivo", explicaram-nos. A verdade é que desde o período da troika, altura em que se iniciou o movimento de "fuga" de médicos para o estrangeiro, os números de pedidos de declarações de good standing não tinham voltado a ser tão elevados como este ano, até novembro.
(...) pode dizer-se que este ano o país perdeu mais de duas centenas de profissionais. Ou, se quisermos, quase um milhar em cinco anos.
O cenário é tanto mais preocupante quanto para o internato da especialidade, a iniciar a 1 de janeiro de 2024, ficaram por preencher 406 vagas, o que quer dizer que mais de quatro centenas de jovens médicos, que acabaram o curso na faculdade, não optaram pela formação específica.
Mas as saídas não acontecem só por uma questão remuneratória", sublinha. "Os médicos estão a sair do SNS porque estão insatisfeitos, porque não se sentem bem e porque veem o SNS a desmoronar-se de dia para dia", argumenta ainda. O bastonário diz mesmo: "Sou médico há mais de 35 anos e nunca vi tanta insatisfação e desmotivação no serviço público, porque as pessoas não veem uma luz ao fundo do túnel e acham difícil que seja encontrada uma solução."
(...) o bastonário considera que não, defendendo que "a formação médica em Portugal pode ter algumas falhas, mas é boa e reconhecida. O que leva estes jovens a quererem sair do SNS e de Portugal assim que acabam o curso tem a ver com as condições de trabalho, com a forma como são tratados, com o papel que lhes é dado nas instituições e com o reconhecimento e respeito que recebem, que é o que não sentem cá.
O bastonário confirma que "os médicos internos são aqueles que estão a ser chamados para colmatar as faltas dos especialistas e é cada vez mais normal que quando acabam a formação acabem por sair, por não quererem ter a vida que tiveram até ali". Daí, justifica, "haver um conjunto de médicos que prefere não fazer uma especialização, para não ter de estar a trabalhar no SNS, em determinados hospitais ou serviços, em condições muitas vezes degradantes". Ou seja, "são médicos que optam por ser prestadores de serviço para terem a possibilidade de escolher a instituição onde querem trabalhar".
Há médicos a abandonar a profissão
Mas o descontentamento seja no SNS seja na forma como se exerce a medicina está a levar a um outro fenómeno também preocupante e que pode prejudicar o SNS. "Há médicos a abandonar a profissão. São profissionais que tiraram uma especialidade e que deixam de ser médicos por não se sentirem completos no exercício da profissão", explica o bastonário, contando que "há colegas que não se sentem completos a trabalhar como trabalham, que sentem que a sua intervenção junto do doente já não é o que era, e acabam por se desmotivar de tal maneira que estão a sair da profissão. Alguns vão para áreas diferentes da da saúde, o que é bem demonstrativo da insatisfação e do descontentamento".
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