December 12, 2023

Narges Mohammadi pela voz de Taghi Rahmani: o Ocidente abandona as causas a meio



Taghi Rahmani, marido de Narges Mohammadi, presa no Irão e impossibilitada de ir receber o prémio Nobel da Paz que lhe foi atribuído, em entrevista à BBC, no programa, Hard Talk.

Narges está sem falar com ele e os filhos há mais de um ano. As prisões iranianas são particularmente cruéis com as mulheres, com muito tempo de solitária. Narges, que ainda tem anos de sentença para cumprir e uma centena de chicotadas, corre o risco de morrer pela sua luta, mas está disposta a ficar presa se é esse o preço para que os filhos tenham uma vida melhor e mais livre que a sua. Isto é muito difícil de compreender para um ocidental, diz ele, mas segundo Narges, sair da prisão para uma vida 'normal' seria apenas ir para uma prisão maior. 

Taghi Rahmani e Narges conheceram-se numas aulas clandestinas que ele dava sobre história contemporânea, proibida no Irão. São ambos activistas dos Direitos Humanos e, portanto, uma 'vida normal' não faz parte do seu quadro mental. Claro que é um sofrimento para a família mas as crenças que têm acerca de uma sociedade com instituições fortes que sejam capazes de fazer face ao poder e o amor que têm à liberdade são mais poderosos que o medo e o desejo de conforto: 'Para dar o primeiro passo para o amado tens que ter coragem e essa coragem é o amor', diz Rahmani, citando um poema persa, a propósito do sacrifício da mulher.

Taghi Rahmani diz que o Ocidente não tem ajudado a luta do Irão. Não especifica, mas percebe-se que está a falar, em primeiro lugar, da escolha do Irão para liderar o Conselho dos DH da ONU. Os iranianos tentam seguir um caminho de liberdade e o Ocidente calca-os e eleva os seus algozes. No entanto, como derrotar um autoritário é uma acção única, que não precisa ser repetida, a luta vale a pena. Quanto mais o poder no Irão reprime o povo, mais dissidentes cava no seu próprio seio e aos poucos a oposição ao regime cresce, mesmo que aparentemente não se veja. É o que está a acontecer no Irão. Na altura certa levantam-se e derrubam o regime.

Taghi Rahmani pensa que o Ocidente não tem uma estratégia clara para a Ásia e que isso se viu muito bem no Afeganistão. Pensa que têm objectivos e intenções mas depois, como não têm estratégia, não sabem desenhar um caminho para o sucesso e abandonam as causas a meio criando grandes problemas aos que ficam desapoiados. Não estamos a ver isso com os EUA na Ucrânia?

Para os que falam de paz oca: o prémio Nobel da paz é muitas vezes atribuído, aos que se entregam na luta contra regimes brutais e pagam um elevado preço. A paz não é ausência de guerra e de luta. Isso é apenas uma outra prisão.

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