December 15, 2023

Boas ideias

 


Que podíamos adoptar, mesmo que se tivesse que adaptar à nossa realidade.


Pela criação de um passe cultural para os jovens


Felisbela Lopes

A ideia de um passe cultural destinado aos jovens surgiu em forma de promessa eleitoral, por parte de Emmanuel Macron, e começou a ser concretizada em França, em 2019, de modo algo caótico. O tempo foi corrigindo imperfeições e hoje reconhece-se grande sucesso a esta iniciativa que abrange 3,7 milhões de franceses. Sem diferenciação de estatuto socioeconómico ou de origem geográfica.

Fixando montantes pecuniários de acordo com a idade, este passe cultural integra um nível coletivo em que se atribui a cada aluno pré-universitário (a partir do 6. ano) 25 euros para consumos previamente definidos pelos professores; e um nível individual em que cada um pode definir as suas opções. Aí, os montantes oscilam entre 20 euros para jovens de 15 anos e 300 euros para aqueles que atingem os 18 anos.

Esta semana, a revista L’OBS procurou desenhar uma cartografia desses hábitos culturais e os resultados são, de certa forma, surpreendentes.

Não entregando o dinheiro diretamente aos jovens, antes reembolsando os agentes culturais que lhes fornecem os bens, o Estado consegue facilmente identificar consumos. Este ano, 45% deste investimento foram gastos em livros. É verdade: os jovens gostam de ler. No top das preferências estão romances, banda desenhada e manga. Os autores mais vendidos são, respetivamente, Colleen Hoover, Squeezie e Eiichiró Oda. Neste contexto, o TikTok assume-se como um grande influenciador. O cinema, sobretudo as grandes produções, reúne também um índice elevado de consumo (26%) assim como a música (%)

Não diferenciando jovens com poder económico e com acesso fácil a bens culturais por habitarem grandes centros urbanos onde há uma ampla oferta dessa natureza, poder-se-á reconhecer que este passe não corrige assimetrias. Até certo ponto, sim. No entanto, tem um enorme mérito: coloca os mais novos nos circuitos da cultura.

Perto de uma campanha eleitoral, os políticos portugueses têm aqui uma interessante pista para seguir quando desenharem propostas eleitorais de âmbito cultural. Avanço com uma sugestão suplementar: seria muito útil introduzir neste passe uma valorização de conteúdos jornalísticos pagos.

Precisamos de jovens bem informados e com uma intensa cultura cívica. Ao patrocinar este tipo de consumo, o Estado está a cuidar de si e a cuidar de todos. E a ajudar as empresas jornalísticas que, genericamente, atravessam uma crise financeira grave.

Sem uma democracia robusta, que conte com jovens alinhados com o bem público, dificilmente teremos uma sociedade comprometida com o desenvolvimento.

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