25 novembro. De repente, há uma parte importante da sociedade portuguesa que considera os acontecimentos político-militares que ditaram o fim dos setores de esquerda do MFA fundamentais para serem assinalados. Para esses, a democracia é filha direta do 25 de Novembro, e foi nessa data que se derrotaram as tentações totalitárias da revolução. Esta mudança de leitura histórica - durante quase 49 anos, o 25 de Novembro esteve em sossego -, está na ordem do dia. Sinal dos tempos e do reforço eleitoral de uma direita mais extremada. DN
Esta urgência de comemorar o 25 de Novembro não tem a ver propriamente com a comemoração. Os fascistas também comemoram o 28 de Maio e ninguém se incomoda com isso. Se a direita quiser comemorar o 25 de Novembro, comemora. O problema é muito mais importante é saber qual é a matriz da democracia? A democracia surge da revolução ou do contragolpe militar do novembros? Essa é que é a questão. A democracia tem uma essência contrarrevolucionária ou é um fruto da revolução? Existe democracia apesar da revolução ou existe democracia por causa da revolução? Essa é que é a questão que se coloca. No momento em que a extrema-direita emerge por toda a Europa e em muitos locais do mundo a estabelecer um novo discurso de legitimidade histórica, naturalmente vai inventar que a democracia surge do contragolpe do 25 de Novembro. Do meu ponto de vista o que é importante é tornar claro que a democracia em Portugal foi conquistada na rua e na revolução, não foi no 25 de Novembro. (Fernando Rosas)
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De repente? Sempre houve uma parte da sociedade a considerar a data do 25 de Novembro como uma data importante a assinalar, dado que permitiu ao país tornar-se uma democracia pluralista. Não há nenhuma mudança de leitura histórica, nem o 25 de Novembro esteve em sossego, o que há é o fim de uma espécie de ditadura de opinião comunista e, recentemente, socialista. O que há é o fim de uma hegemonia da leitura da História a partir da esquerda dogmática comunista e trotskista a quem os socialistas e outros se juntaram recentemente.
Que a esquerda chame ao 25 de Novembro uma data de extrema direita e o compare às comemorações fascistas, mostra o seu dogmatismo atávico e que a associe ao crescimento da extrema-direita em surgimento na Europa mostra o seu conservadorismo profundo.
Tal como o 25 de Abril foi um movimento de militares, imediatamente apoiado nas ruas pelo povo, o 25 de Novembro também foi um movimento de militares, imediatamente apoiado nas ruas, pelo mesmo povo. Isso é que custa aos PCs - o povo nunca ter querido uma sociedade comunista.
E se o 1ª movimento pôs fim à ditadura salazarista e abriu a possibilidade de uma democracia pluralista, o 2º foi quem, de facto, consolidou essa possibilidade, pois o país estava numa deriva de ditadura comunista soviética, com o fim dos partidos políticos em vista, tal como era assumido e defendido publicamente -e mais que uma vez- por Álvaro Cunhal, que afirmou que em Portugal nunca haveria uma democracia pluralista partidária.
A revolução de Abril não foi a consolidação de coisa alguma porque gerou um tempo de instabilidade social e política, como é próprio das revoluções, que são tempos de extremismo e profunda agitação social dado que uma revolução não é uma reforma, é a destruição ou desintegração de uma ordem para erigir outra.
Portanto, dizer que no 25 de Abril ficou imediata e directamente instaurada uma democracia, é completamente falso e até ridículo porque contraria todos os factos.
E não faz sentido, passados 50 anos do 25 de Abril, continuar-se a escamotear pessoas que intervieram no decorrer dos acontecimentos políticos, numa altura em que a nossa sociedade resvalava para uma ditadura soviética que iria substituir a ditadura salazarista e, tiveram a coragem de lhe corrigir o rumo, pois lhes devemos ter hoje uma sociedade pluralista.
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