November 13, 2023

O falhanço sueco da experiência com os cheques-ensino

 


Não só sueco, também no RU, EUA (as charters schools) e outros países que seguiram a Suécia nesta experiência, houve decadência dos resultados escolares. Transformar as escolas em empresas e os alunos em clientes e fomentar a lógica do mercado e do lucro, dá mau resultado. Nas escolas e nos hospitais, que são serviços cujo fim não é o lucro ou a concorrência: vamos ver quem dá notas mais altas ou quem opera mais doentes mesmo que tenha de trabalhar todos os dias 16 horas e matar um doente ou outro devido ao cansaço. Era interessante que em Portugal se vissem estes exemplos, pois este tipo de escola-empresa que desfavorece ainda mais os que menos têm e que não é pedagógica, é o que é defendido pela IL e outros partidos dessa área política. Seria dramático sairmos da escola marxista deste ME, onde todos são iguais por decreto do ministro, para uma escola-empresa. Uma e outra têm como fim, não a qualidade da educação, mas poupar dinheiro à custa da educação.



Ministra da educação sueca diz que sistema de ensino friskolor é um “fracasso”. 


Lotta Edholm refere que o problema está no próprio sistema educativo e iniciou uma investigação que se foca nas suas falhas, afirmando que não será mais possível "obter lucros à custa de uma boa educação"

A ministra da educação sueca, Lotta Edholm, admitiu que o sistema de ensino friskolor da Suécia é um “fracasso”, prometendo, ao mesmo tempo, em entrevista ao The Guardian, uma nova reforma após mais de 30 anos de um sistema educativo baseado num modelo em que empresas privadas gerem o ensino público.

Foi na década de 1990 que o governo sueco decidiu, além de outras reformas, alterar o sistema educativo, transitando de um sistema tradicionalmente centralizado para uma descentralização que permitiu a entrada de escolas privadas financiadas pelo Estado e sem custos para os alunos na rede pública.

Já em 2017, denunciava-se a falha desta reforma no sistema educativo, com acusações à esquerda e à direita do país sobre os culpados deste grande tropeço no ensino: a primeira, denunciava a entrada das escolas privadas na rede pública; a segunda, culpava a imigração, que levou para a Suécia jovens que contribuíram para baixar os resultados escolares do país devido ao seu perfil socioeconómico mais baixo.

Em setembro de 2018, o jornal francês Le Monde Diplomatique chamou à privatização do ensino sueco um “fiasco”, escrevendo que “os lucros das empresas privadas que investiram na saúde ou na educação” tinham-se sobreposto à “qualidade dos serviços e do sucesso dos alunos”. “Lucros em alta, resultados em baixa”, lê-se, na investigação conduzida por Violette Goarant.

O mesmo jornal escrevia que, ao longo dos anos, “imensos alunos, pais e decisores políticos” mantiveram “uma ilusão de sucesso, ao mesmo tempo que o país foi “descendo nas avaliações internacionais”, nomeadamente na classificação PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos).

Em 2018, a Suécia era o país da Europa que mais gastava em educação. Agora, Edholm, que refere que o problema está no próprio sistema, iniciou uma investigação que se foca nas falhas deste sistema educativo, afirmando que não será mais possível “obter lucros à custa de uma boa educação”. De acordo com a ministra, os maiores lucros são conseguidos nas escolas secundárias, as denominadas gymnasieskola, onde existe “má qualidade”, daí ser mais “fácil obter lucros”.

O que são as friskolor

Uma friskola na Suécia (friskolor no plural, ou “escola independente”, traduzido para português) é um estabelecimento privado sob contrato, ou seja, uma escola privada financiada por dinheiros públicos, sendo conhecida como “escola gratuita”.

Em 1991, o então primeiro-ministro, Carl Bildt, líder do Partido Moderado, instaurou um sistema que incluía uns “cheques-ensino”, que possibilitava a cada família inscrever os seus filhos na escola pública ou privada da sua escolha de forma totalmente gratuita.

Se essa família escolhesse um estabelecimento privado, a autarquia dava à escola um voucher num montante igual ao que era gasto com um aluno do setor público, no mesmo município.

Isto fez com que as escolas privadas que seguiram este modelo, que praticamente não existiam nos anos 90, passassem a representar, em 2017 cerca de 20% dos efetivos das escolas suecas que gerem o ensino secundário. Já dados do The Guardian revelam que, neste momento, 15% de todos os alunos entre os 6 e os 16 anos e 30% dos alunos dos 16 aos 18 anos frequentam uma escola dessas.

Este tipo de escolas – existem milhares na Suécia – foi durante alguns anos motivo de “aclamação internacional” e visto como um exemplo a seguir, nomeadamente no Reino Unido.

Contudo, nos últimos anos foi-se verificando uma grande queda nos padrões educativos suecos, um aumento elevado da desigualdade e uma crescente insatisfação e frustração entre professores e pais.

A concorrência do privado passou a influenciar “fortemente o sistema público”, escreve o mesmo jornal francês, juntando-se a “uma reforma pedagógica comum de individualização das aprendizagens que deixa mais liberdade aos alunos e desfavorece os das famílias mais modestas”.

Em junho, um relatório realizado pelo Sveriges Lärare, o maior sindicato de professores do país, exigiu a eliminação progressiva das friskolor no país, alertando para as consequências negativas e graves de o sistema educativo se ter tornado um “mercado”, como se de um cliente e de um prestador de serviços se tratasse.

Edholm refere que pretende “limitar de forma severa” a capacidade de as escolas obterem lucros e criar multas para os estabelecimentos que falhem no seu dever

“Estas escolas têm tendência a dar notas mais altas do que as escolas municipais. Isto aumenta o risco de as escolas municipais começarem a fazer o mesmo, o que é mau”, afirma Edholm.

Relativamente aos estabelecimentos que estão fora deste sistema de ensino na Suécia, estes enfrentam desafios significativos em termos de criminalidade e segurança e, neste ponto, Edholm considera que o acesso às escolas deve passar a ser mais restrito.

“A sociedade está a passar por um processo de mudança na sua relação com a ameaça terrorista, mas também com o crime relacionado com gangues, que está de facto a afetar as escolas suecas”, refere, acrescentando ainda a importância de conseguir reduzir o tempo que os alunos passam em frente aos ecrãs e impulsionando, por outro lado, o uso de livros físicos.

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