Hoje é greve da função pública. Ainda não vi as notícias, portanto não sei qual foi a adesão. Mas eu tenho motivos de sobra para fazer greve.
Sou professora desde 1 de setembro de 1999. Trabalho, desde então, ininterruptamente na escola pública e para a escola pública. Já dei aulas de norte a sul do país. Vivi em quartos alugados e partilhei casa com pessoas que não conhecia de lado nenhum. Vinte e quatro anos depois ainda faço 120 km, todos os dias, para ir para a escola.
Quem ouve o Sr. Primeiro Ministro (PM), fica com a sensação que a vida de professor é fantástica, que nós ganhamos muito dinheiro e que somos uns ingratos. Mas, ora vamos lá ver,
- O PM diz que não pode tratar os professores de forma diferente das outras carreiras, no entanto, recuperou todo o tempo de serviço aos enfermeiros e aos professores não.
- O PM diz que já recuperou 70% do tempo congelado aos professores, tal como o fez às restantes carreiras. O que ele não disse é que recuperou aos professores 70% de 4 anos e às outras carreiras recuperou 70% de 10 anos.
- Os professores das ilhas recuperaram todo o tempo de serviço e os do continente não. Podem dizer que são regiões autónomas e, como tal, têm autonomia para decidir como gerem a carreira. Mas todos sabemos que as regiões autónomas não são independentes e vivem do dinheiro que o Governo Nacional lhes transfere. No limite, podemos dizer que os impostos dos professores do continente pagaram a contagem do tempo de serviço dos docentes das ilhas.
- Dados da DGAEP mostram que o ganho médio mensal dos professores é de 3,7%, enquanto dos assistentes técnicos é de 10,1%, dos militares é de 9,6% dos médicos, 8,2% (este valor é de antes da proposta do Governo, nos últimos dias, de aumento de 30% aos médicos que estão em exclusividade), dos assistentes operacionais, 8% e dos enfermeiros, 7,1% (a acrescentar ao tempo de serviço totalmente contabilizado, como referi lá atrás).
Resumindo, os professores já estão a ser tratados de forma diferente das outras carreiras.
É cada vez mais evidente o rancor que o PM sente em relação aos professores. Pergunto-me, às vezes, se não haverá ali algum trauma de infância ou adolescência? Algum recalcamento? Pode toda uma classe ser prejudicada por uma, cada vez mais óbvia, birra de uma só pessoa?
A carreira docente devia ser até melhor tratada que as outras? A educação é o pilar da democracia. Os professores são os responsáveis pelo futuro do país.
Na escola ensinamos, além das nossas disciplinas, o sentido de justiça, de igualdade e equidade, no entanto não sentimos esses valores da parte da tutela.
Receio bem que este ciclo governativo esteja a destruir uma das grandes conquistas de Abril: a Escola Pública.
Assim, hoje estou em greve!
por Sílvia Cláudia Marques, 6 de outubro de 2023
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