September 11, 2023

Totally missing the point

 


Agora que assino o Público (assino sempre um jornal. o último foi o Expresso, durante dois anos, agora é este) costumo ler os desacertos que esta comentadora escreve. Raramente acerta e só se indigna de um lado como uma amiga aqui há uns tempos que se queixava de a extrema-direita estar cada vez mais afoita e quando notei que a extrema-esquerda também, respondeu-me que é diferente porque a extrema-esquerda não é má como a extrema-direita. 

Assim é esta comentadora que só se indigna para um lado. Gostava de saber o que pensa ela dos brasileiros que votaram em Lula para Presidente, um político acusado de corrupção e abuso de poder e "até já cumpriu pena", como ela diz, embora me pareça que em vez de até, devia ter escrito, apesar de. Ou o que diria se Sócrates fosse de novo eleito? Ou é diferente porque Lula e o Socas são de esquerda?

Mas enfim, a questão é que me parece que ela passa ao lado do que interessa para compreender Isaltino em Oeiras.
Isto é mais ou menos como as turmas cheias de bons alunos nas escolas, a partir de certo nível de ensino, como o secundário. A não ser que apanhem professores catastróficos daqueles que destroem pessoas, é mais ou menos indiferente, para o seu sucesso, os professores que tenham, porque têm recursos (epistemológicos, metodológicos e intelectuais - e familiares/socio-económicos) para progredir com sucesso, mesmo que os professores não sejam bons. A psicologia mostra isto há muito tempo. Onde os bons professores fazem diferença é nos primeiros níveis de ensino (os primeiros oito ou nove anos, sobretudo os primeiros cinco) e mais tarde, nos alunos médios ou com dificuldades. Um bom professor é capaz de os arrancar da mediania e pô-los em outros patamares. 

Com os alunos muito bons um professor só faz diferença no nível do entusiasmo que passa aos alunos pelos saberes, que lhes abre outros horizontes mas, se for um professor medíocre e sem entusiasmo, eles estudam e trabalham à mesma, e vão a exame tirar grandes notas. Aliás, muitos preferem um professor medíocre que lhes diz as regras do jogo e depois lhes dá boas notas sem chateá-los. Isto é sabido há muito tempo.

Passa-se o mesmo com os eleitores do concelho de Oeiras. Eles não escolhem Isaltino por este ser muito bom a fazer obra. O outro que lá esteve enquanto Isaltino esteve na cadeia também era bom e qualquer outro, desde que não seja um grunho catastrófico, seria sempre bom, porque o concelho de Oeiras, como a própria comentadora o refere, é quase todo de alunos excelentes, isto é, a maioria são pessoas ricas e com níveis de instrução muito elevados. Sabem muito bem o que fazer ao dinheiro, onde investir, que pessoas interessa captar para os negócios, etc. É indiferente o autarca que lá esteja, pois com tanto dinheiro, autarquia tem sempre à mão pessoas com os fundos e os contactos que interessam, de maneira que o autarca não tem que fazer muito, ou até nada: basta-lhe ir almoçar arroz de lavagante e não chatear nem estragar o negócio aos outros.

Aliás, se for alguém com tendência para o luxo e para a corrupção, ainda é melhor, não é verdade? Menos chateia os oeirenses e os seus interesses... Não é também por isso que Lula foi apoiado por tantos? Muitos que agora se servem dele para avançar com as negociatas de exploração de petróleo na Amazónia? Não foi por isso que Sócrates foi apoiado por tantos?


Não me dês moral, dá-me um ideal social, um Pêra Manca branco banal

Os munícipes de Oeiras estão dispostos a abdicar de princípios em nome do desejo que têm de que as coisas funcionem.

Carmo Afonso

Em Oeiras, o presidente de câmara foi escolhido mediante um fascinante processo. Os munícipes, eleitores, são pessoas instruídas; diz-se que é o concelho com maior número de licenciados e doutorados. Diz-se também que são eleitores com elevado poder de compra. Certo é que, nas eleições autárquicas, continuam a fazer de conta que não têm acesso a informação.

Mas falava-vos do processo. Tem de existir uma justificação para os oeirenses escolherem para presidente de câmara um homem que já foi condenado por evasão fiscal e branqueamento de capitais e que até já cumpriu pena.

2 comments:

  1. "respondeu-me que é diferente porque a extrema-esquerda não é má como a extrema-direita."
    Não é tanto uma questão de maldade, é uma questão dos interesses que se defendem.

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    1. Aqui, o termo operativo é, 'extrema' porque sejam quais forem os interesses que se defendam, ambas as extremas o defendem com radicalismo, logo, excluindo a maioria que defende os seus interesses sem radicalismo.

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