September 26, 2023

"quero um cargo director-geral - dá-me uma merda qualquer a ganhar 12 mil euros.”





O nosso Estado, nos meandros da administração pública é isto, só que em geral não se sabe. Gente que nomeia gente, para todos roubarem, com outros nomes, claro, 'gestão de fundos', 'grupo de trabalho', 'comissão de supervisão', 'direcção disto e daquilo', etc. 
Somos governados por uma maioria absoluta que chumba o país todo, menos estes parasitas ladrões. E porque é que todos andam a enganar, assim às claras? Porque Costa é um cobridor e todos sabem.
E é para alimentar estes cães que se corta na educação, na saúde, na justiça e em todos os serviço públicos.
Aplica-se-lhe uma frase que ouvi hoje num filme, andas aí como um rei pelas salas dos palácios de coroa na cabeça, mas nunca pareceste tão insignificante.


Quero é vida boa arguidos da defesa andavam à pesca cargos potencial


Depois de ser demitido de director de serviços, Paulo Branco tinha conseguido refugiar-se na Direcção-Geral de Finanças e do Tesouro – na expressão do próprio – graças aos bons ofícios do subdirector-geral Miguel Santos, que fazia parte da sua rede de contactos. Segundo descobriu a Polícia Judiciária, sem que esta colocação tenha deixado qualquer rasto oficial. As suas funções consistiam em contribuir para assegurar a gestão integrada do património do Estado. E preparava-se, segundo os investigadores deste processo, baptizado como Tempestade Perfeita, para ali levar a cabo os mesmos esquemas criminosos relacionados com a adjudicação de empreitadas e de serviços a empresários da sua confiança, que depois lhe retribuíam o favor – e que, segundo a acusação, terão abrangido dezenas de contratos para obras que por vezes nem sequer foram efectuadas, e não apenas o hospital militar.

A conversa interceptada pelos inspectores entre estes dois técnicos superiores da função pública continua no mesmo dia, com Paulo Branco a dizer que a Direcção-Geral do Tesouro “tem potencial”. Francisco Marques insiste: “Achas que há potencial para situações de feiras e paredes?” O outro responde-lhe que sim, mas que é preciso tempo para convencer o subdirector-geral, “porque nunca nada foi feito e agora não se pode de repente começar a fazer coisas de cinquenta milhões”. O ex-director de gestão financeira gaba-se então de ter ensinado Miguel Santos, que não tem formação na área, a adjudicar uma obra pública de um milhão sem a submeter ao obrigatório visto prévio do Tribunal de Contas. Bastava fraccioná-la por especialidades. “Ele é arquitecto, não percebe de contas. E eu disse-lhe: ‘Abaixo dos 900 mil euros, se nós dissermos que há um conjunto de contratos, ainda que todos associados ao mesmo objecto, significa que (…) podíamos dispensar o visto prévio’. E ele ficou a olhar p'ra mim, do tipo, não percebi nada do que disseste, mas se me estás a dizer acredito em ti.”

Mas a Direcção-Geral do Tesouro não era de todo a única alternativa. Havia um vasto leque de cargos que cobiçavam, e a rodagem de cargos que perspectivavam a seguir às autárquicas de 2021 abria-lhes novos horizontes.

“Um lugar que eu quero é presidente de uma empresa qualquer. Até pode ser da ETI “, observa o então funcionário da Direcção-Geral do Tesouro. “Porque todas as empresas têm potencial, haja arte e engenho para o saber levar, não é?” Depois prossegue com a sua lista de prioridades: “O segundo lugar, que já é, digamos assim, um compromisso, é ter um lugar estável lá fora. Na ESA – Agência Espacial Europeia, na NATO, uma merda qualquer a ganhar 12 mil euros! Também não fico chateado, percebes? Mas não posso dizer que é a minha primeira opção. O terceiro lugar, que eu não quero mas até aceito, é como director-geral de uma merda qualquer.”

E mais vale aqui, onde está a obra (...) do que estar numa parte mais esotérica, que é o que a Direcção-Geral do Tesouro faz com as homologações, mas não toca tanto na chicha.”

Dos dois mil euros brutos que ganhava na Defesa, este licenciado em Direito pela Universidade Autónoma, com uma pós-graduação pela Faculdade de Direito, passou a auferir 2700, acrescidos de mais 200 euros de despesas de representação. Um lugar em que “dá para fazer umas coisas, mas muito mais difícil” do que na Defesa, como confidenciou a um empresário também arguido da Tempestade Perfeita.

Em 2021 este técnico superior integrou a candidatura socialista à União de Freguesias de Carnaxide e Queijas. Costumava dizer que a administração pública, para ele, era “um trampolim”.

Contactado pelo PÚBLICO, o advogado de Francisco Marques, Ricardo Sá Fernandes, não quis pronunciar-se sobre o conteúdo das escutas de que o seu cliente foi alvo.


(excertos)

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