September 01, 2023

da Literatura

 


Com uma clara referência ao seu país natal, o laureado [Solzhenitsyn] defende que a "propaganda", a "coação" e a "prova científica" são "inúteis" neste terreno moral. Só a arte e a literatura podem "superar o hábito ruinoso do homem de aprender apenas com a sua própria experiência". Mas Solzhenitsyn não se fica por aqui. A arte e a literatura, continua, também funcionam a nível nacional, transmitindo a experiência colectiva em benefício de outras nações e de épocas posteriores. Nos casos mais afortunados, a literatura "pode salvar uma nação inteira de um curso redundante, ou erróneo, ou mesmo destrutivo, encurtando assim os caminhos tortuosos da história humana"

Richard Hughes Gibson in realism-confronts-utopia

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A literatura, a boa literatura, tem sempre um fundo filosófico. São livros onde se mostra, nas acções e palavras humanas modos de ser e agir que ultrapassam o mero local. Por isso podem ser lidos e reconhecidos por qualquer uma pessoa de qualquer cultura. Como diz Solzhenitsyn, a literatura distende os nosso horizontes porque faz-nos aprender com a experiência dos outros e então, alargamos os nosso horizontes a horizontes muito mais vastos. A boa literatura é arte e tal como a arte (e também a filosofia) tem um carácter supra-temporal. Atravessa tempos e épocas sem perder força e verdade.


Algumas frases de Eça:

Nas nossas democracias a ânsia da maioria dos mortais é alcançar em sete linhas o louvor do jornal. Para se conquistarem essas sete linhas benditas, os homens praticam todas as ações - mesmo as boas.
   - Eça de Queiroz, in 'A Correspondência de Fradique Mendes'

(uma frase que acerta em cheio na mercância de baixa moralidade do politico)


Curiosidade: instinto que leva alguns a olhar pelo buraco da fechadura, e outros a descobrir a América.
(uma frase que nos diz que as características humanas não são boas nem más em si mesmas, mas que tornam-se virtudes ou defeitos de carácter, grandes ou mesquinhas pelo uso que delas fazemos)


“Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a uma esperança - nem a um desapontamento. Tudo aceitar o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves.” 
― Eça de Queiroz, Os Maias
(uma frase de apologia do estóico - escapar ao sofrimento pela indiferença)


“Se não aparecerem mulheres, importam-se, que é em Portugal para tudo o recurso natural. Aqui importa-se tudo. Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências, estilos, indústrias, modas, maneiras, pilhérias, tudo nos vem em caixotes pelo paquete. A civilização custa-nos caríssima, com os direitos de alfândega:e é tudo em segunda mão, não foi feita para nós, fica-nos curta nas mangas...” 
― Eça de Queiroz, Os Maias
(uma frase que fala de Portugal como um país sem rumo e sem ideias que espera que tudo lhe caia aos pés já feito e que por isso é um imitador e faz tudo tarde e em segunda mão)


“Com a mania francesa e burguesa de reduzir todas as regiões e todas as raças ao mesmo tipo de civilização, o mundo ia tornar-se numa monotonia abominável. Dentro em breve um touriste faria enormes sacrifícios, despesas sem fim, para ir a Tumbuctu - para quê? Para encontrar lá pretos de chapéu alto, a ler o Jornal dos Debates.” 
  - José Maria Eça de Queirós
(uma frase profética... se ele visse a baixa de Lisboa cheia de lojas ale-hop, todas com uma vaca à porta...)


“Amei aquela criatura. Amei aquela criatura com Amor, com todos os Amores que estão no Amor, o Amor Divino, o Amor Humano, o Amor Bestial, como Santo Antonino amava a Virgem, como Romeu amava Julieta, como um bode ama uma cabra.”
― Eça de Queirós, A Cidade e as Serras
(uma frase que fala do amor como um sentimento tão absoluto que inclui o santo e o bestial e nenhum deles ofende o outro)

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