“A situação é pior” do que temia o Conselho de Escolas “porque há menos professores”
Presidente dos directores acredita que a falta de professores já está a levar algumas famílias a levarem os seus filhos para o ensino privado.
Samuel Silva (Texto) e Rui Gaudêncio (Fotos)
Numa recomendação de Julho, o CdE, mostrava-se “preocupado” com a perspectiva de os estabelecimentos de ensino “não disporem das condições mínimas” para trabalhar no próximo ano lectivo. Com que condições arranca este ano lectivo?
Olho com alguma apreensão, para já. Neste momento falta preencher vários horários em diferentes escolas. Há Quadros de Zona Pedagógica que ficaram com muitas pessoas por colocar no âmbito da “vinculação dinâmica”. Há muitos professores que estavam contratados em Lisboa e Vale do Tejo e vincularam, por exemplo, no quadro da Guarda. Tenho colegas, no Norte e no Centro, que estão a colocar professores do quadro em horários incompletos, e nós aqui com falta de professores para horários completos.
“A situação é pior” do que temia o Conselho de Escolas “porque há menos professores”. Já se previa isto, porque a maioria das vagas para a vinculação dinâmica abriram no Norte e Centro, mas as vagas para contratação são no Sul (Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve). Muitos professores do Norte têm família constituída e não estão sujeitos a vir para Lisboa, pagar muito dinheiro pela casa. Preferem candidatar-se a horários incompletos, que surgem mais tarde. Sabemos que cerca de 2000 professores que reuniam as condições, não concorreram à vinculação dinâmica precisamente para não terem que concorrer no próximo ano a nível nacional e afastar-se da residência.
Eu não sei se foi agravada ou se é uma questão conjuntural. O que salta à vista é que há professores a aguardar colocação no quadro no Norte do país, enquanto em Lisboa e Vale do Tejo (LVT) faltam professores.
A situação é pior porque há menos professores. Mas nós já antecipávamos a dificuldade. Neste momento, necessitamos primeiro de professores para garantir as aulas aos alunos.
Eu analiso com alguma preocupação, nomeadamente, em LVT e Algarve. Além da falta de professores, haverá dificuldade em cumprir os planos de inovação, planos de recuperação de aprendizagem.
Pois, esse é um problema. Penso que em vários grupos de recrutamento ainda temos bastantes professores. Por exemplo, ainda existem professores do 1.º ciclo e esses são excelentes para fazer apoio de aprendizagens no 2.º ciclo. Não sei se haveria ou não professores, mas há professores com habilitação própria e continuamos a ter professores a concorrer.
São 17 no total. Estão quatro em contratação de escola, dois horários completos e sete incompletos na reserva de recrutamento, mais cinco pedidos de substituição por doença.
Presumo que, para a semana, ficarão a faltar seis ou sete professores. Este atraso é um bocadinho problemático, porque nós estamos a fazer reuniões de preparação do ano e isso provoca algum constrangimento. Mas em relação às aulas, não deve haver problemas de maior.
Esse cenário começou a ser previsto em 2014/15 ou 2016. No tempo da crise, cerca de metade dos professores contratados que estavam na escola foram embora. Até foram aconselhados a emigrar porque não havia lugar para eles. O efeito nefasto é que as universidades e as Escolas Superiores de Educação começaram a ficar sem candidatos e a fechar os cursos. Começámos logo a ver que, se isto não mudava, iriam faltar professores. Eu estou com receio de uma outra perversidade desta situação, que é os pais, que estão com medo da falta de professores, já estão a levar os seus filhos para o ensino particular. Isso dá uma imagem frágil da escola pública.
Quando juntamos outras profissões e outras carreiras ao protesto, estamos a fazer comparações que não são verdade. Eu assisti a pessoas a falar nas televisões e a dizer coisas que não são verdade. Portanto, isso prejudica. Mas, com algumas excepções, os professores fizeram as greves e manifestações pondo o mínimo de prejuízo nos seus alunos.
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