Pela não reutilização dos manuais escolares
Felisbela Lopes
Quase no arranque do novo ano letivo, voltamos a discutir a reutilização dos manuais escolares no 1.º Ciclo. Dessa obrigação apenas estão excluídos os livros do 1. e 2.º anos de escolaridade. Não faz sentido. Porque, em contexto de sala de aula, um livro, mesmo sem espaços em branco, deve ser sublinhado, anotado, colorido e muito usado.
É isso que lhe confere valor.
É um erro pensar que somente as crianças dos primeiros dois anos do Ensino Básico escrevem abundantemente nos livros que são a sua ferramenta diária de trabalho. Os mais velhos também podem fazer isso, nomeadamente em determinadas disciplinas. Pensemos no caso do Português. Como se lê e interpreta um texto? De várias formas, mas há certas práticas que se revelam profícuas: sublinhar as partes mais importantes, escrever os significados das palavras desconhecidas ou descobrir e anotar sinónimos das menos usuais. Isto pode ser feito do 1. ao último ano de escolaridade. E deveria ser expandido na universidade, se os estudantes tivessem sido mais treinados na escrita.
Acontece que não é assim que o atual sistema de ensino opera. E a insistência em entregar manuais que devem depois ser devolvidos para reutilização tem subjacente a si a ideia de que tais livros integrarão poucos espaços para apontamentos e quase nenhuma margem para aí escrever para além do previsto. É claro que oferecer os manuais escolares sem exigência de retorno pressupõe uma despesa avultada do Estado, mas tudo se alteraria se tal opção fosse perspetivada em termos de investimento.
Há ainda uma outra variável a favor da oferta dos manuais escolares: em várias famílias serão estes os únicos livros que uma criança tem em casa. E seria, de facto, precioso fazer aí reter exemplares a partir dos quais se constroem determinadas memórias para toda a vida.
Numa era em que os mais novos passam muito tempo agarrados a telemóveis, a escola teria nos manuais escolares uma ótima ferramenta para levar os alunos a escrever cada vez mais e, porque acompanhados, cada vez melhor. Em vários registos e a partir de vários campos do saber. Exercitar com acompanhamento de um professor a escrita criativa, literária ou mais científica e centrada em determinados domínios do saber apenas se poderá fazer na escola e a partir dos manuais escolares. Que somente adquirem o seu verdadeiro valor se foram muitos gastos e não apresentarem condições de reutilização. Nisso estará sempre o seu enorme valor: o de terem sido a base de uma grande aprendizagem.
Acontece que não é assim que o atual sistema de ensino opera. E a insistência em entregar manuais que devem depois ser devolvidos para reutilização tem subjacente a si a ideia de que tais livros integrarão poucos espaços para apontamentos e quase nenhuma margem para aí escrever para além do previsto. É claro que oferecer os manuais escolares sem exigência de retorno pressupõe uma despesa avultada do Estado, mas tudo se alteraria se tal opção fosse perspetivada em termos de investimento.
Há ainda uma outra variável a favor da oferta dos manuais escolares: em várias famílias serão estes os únicos livros que uma criança tem em casa. E seria, de facto, precioso fazer aí reter exemplares a partir dos quais se constroem determinadas memórias para toda a vida.
Numa era em que os mais novos passam muito tempo agarrados a telemóveis, a escola teria nos manuais escolares uma ótima ferramenta para levar os alunos a escrever cada vez mais e, porque acompanhados, cada vez melhor. Em vários registos e a partir de vários campos do saber. Exercitar com acompanhamento de um professor a escrita criativa, literária ou mais científica e centrada em determinados domínios do saber apenas se poderá fazer na escola e a partir dos manuais escolares. Que somente adquirem o seu verdadeiro valor se foram muitos gastos e não apresentarem condições de reutilização. Nisso estará sempre o seu enorme valor: o de terem sido a base de uma grande aprendizagem.
Está aí a última panaceia: os manuais digitais.
ReplyDeleteSão um grande erro do ponto de vista do desenvolvimento dos alunos em termos cognitivos e didácticos. Têm utilidade para o professor projectar partes em certas ocasiões.
DeleteTambém concordo com o artigo. O actual ministro da educação toma muitas medidas que no papel ou como princípio geral parecem bem, mas na prática são mais nocivas que benéficas. Não está por dentro dos assuntos e não tem uma boa equipa. @Santosdacasa
ReplyDeleteÉ exactamente o que penso! Todo o processo de classificação e digitalização dos exames nacionais é um exemplo disso. Com o intuito de acabar com a arbitrariedade nas classificações perverteram e destruíram o carácter pedagógico dos exames.
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