Rafael Barbosa
As famílias portuguesas estão a pagar, em média, mais 40% pela prestação da casa, do que há um ano. Ou seja, a prestação média do crédito à habitação disparou 106 euros para uma média de 370 euros mensais. Por outro lado, os juros representam hoje 55% do que se entrega ao banco (17% há um ano): 204 euros por mês em média, o que explica os lucros astronómicos da Banca. É espantoso que Mário Centeno, ex-ministro das Finanças, governador do Banco de Portugal, considere “comedida e razoável” a política monetária do BCE. Percebe-se o argumento de que, com uma taxa de inflação de 8,9% na Zona Euro há um ano, o BCE teria de aumentar os juros. E que isso contribuiu para amenizar a subida descontrolada do custo de vida (a inflação caiu para 5,3% em julho). Mas tem de haver limites. O BCE é independente, mas não pode ignorar as consequências sociais das suas decisões. A cegueira tecnocrática tem maus resultados: promove o desespero e alimenta o populismo.
O ano letivo passado foi marcado pela agitação nas escolas, por causa da luta pela recuperação do tempo “congelado” dos professores. Quem tem filhos na escola suspira por uma trégua. Não vai acontecer. E para isso contribuirá, em grande medida, a encenação promovida pelo mais recente decreto-lei. Confrontado com o veto de Marcelo, o Governo reformulou o texto, para dizer que, em próximas legislaturas, talvez se possa avaliar de novo a recuperação integral do tempo de serviço. É verdade que prevê uma recuperação parcial e que isso vai beneficiar milhares de professores. Mas, no que diz respeito à recuperação integral, é uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Os decretos-leis existem para resolver problemas, não para fazer promessas vãs ou sossegar presidentes. O ilusionismo político tem maus resultados: promove o desespero e alimenta o populismo.
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