Kant é um iluminista, logo, acredita na maioridade humana por via da luz da razão. Isto quer dizer que defende que não precisamos de perguntar ao rei ou ao padre como agir moralmente porque somos seres racionais autónomos, capazes de perceber por nós mesmos o nosso dever. Kant não valoriza a felicidade. Não é que ele diga que é bom ser infeliz mas se a Natureza nos quisesse felizes não nos tinha dado a capacidade de razão que só nos traz angústia e sofrimento. Tinha-nos deixado uma vida de instintos como fez aos outros animais. Depois, a felicidade, diz ele, é a soma de todos os prazeres, o que é impossível de alcançar, de maneira que de cada vez que alcança um prazer, o ser humano começa logo a almejar o seguinte e nunca é feliz.
Kant frisa que somos seres racionais incluídos numa comunidade de outros seres racionais, de maneira que a acção ética deve levá-los em conta. Se a biologia nos diz o que o ser humano é, a ética diz-nos o que ele devia ser e é para esse ideal que devemos caminhar. O que é perfeitamente possível porque, apesar de sermos animais com inclinações naturais, somos também racionais, autónomos e com uma vontade livre, não determinada por leis naturais instintivas, de maneira que somos capazes de perceber como agir eticamente em cada situação e depois, usar a força da nossa vontade livre para nos obrigarmo-nos a seguir essa via - sem necessidade de ameaças religiosas de inferno.
Em cada situação que requer uma escolha ética devemos perguntar a nós mesmos: aquilo que vou fazer, eu quereria que todos os outros seres racionais o fizessem? Eu quero um mundo assim? Pois se vejo claramente que não quero, então não posso criar uma excepção para mim. Ele dá o exemplo de alguém que pede dinheiro emprestado e promete pagar, mas sem intenção de o fazer e pergunta-se: será que queremos um mundo onde todos façam falsas promessas (pois se eu as fizer tenho que admitir que todos os outros seres racionais as possam fazer) ou isso levaria a um mundo irracional onde nunca mais ninguém poderia fazer uma promessa dado que o próprio termo perderia o sentido? Claro que não quero um mundo assim irracional, dado que somos uma comunidade de seres racionais. Portanto, segundo Kant, a vida ética não pode separar-se da comunidade dos outros seres porque o que fazemos atinge todos. Aliás, ele pensa que todos sabemos, quase sempre, qual é o nosso dever, mas que arranjamos desculpas para não o cumprir por egoísmo e incapacidade de perceber que tipo de sociedade estamos a construir.
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