July 01, 2023

PP - Totally missing the point

 



Pacheco Pereira escreve um artigo a propósito desta imagem do seu arquivo: no tempo-em-que-as-paredes-falavam-outra-lingua

Conclui assim:

Este mural foi feito por várias mãos e muito provavelmente não era “oficial” e é muito anterior ao recurso de agências de comunicação e outros “especialistas”. É, no verdadeiro sentido da palavra, espontâneo e ingénuo. Tem uma imagem principal, a de uma pomba (ou uma gaivota) transportando um ramo de oliveira, um misto da letra da canção de Paulo de Carvalho Somos livres, com a sua gaivota que “voava, voava” e do símbolo da paz, com origem num desenho de Picasso, e que fazia parte dos movimentos da paz pró-soviéticos. Há um segundo desenho mais pequeno com uma flor e dois corações unidos por uma seta, em que “eu” e o PPD estavam ligados por uma declaração de amor entre namorados. O símbolo do partido, as três setas, também lá estão e a palavra PPD é repetida nove vezes.

As inscrições são de vanglória, “o PPD vai ganhar”, há apelos ao voto, mas todas as outras são significativas. O voto no PPD era “contra a ditadura” e era um voto pela “liberdade”, e há quatro “vivas”: ao PPD, um muito apagado à JSD, ao “povo” e… à “social-democracia”. Há depois duas palavras, uma cortada e outra “infantil”, que não se percebem porque a fotografia não mostra o muro todo. Não é impossível, pelo tipo de algumas letras, que crianças tivessem participado na pichagem, mas também pode ser que o mural ocupe uma parede em que já havia outra inscrição. Não é muito importante.

Querem perceber o sentido completo da frase de L. P. Hartley sobre o “passado como país estrangeiro”? Aqui está.

A única conclusão que PP tira destes imagem é que ela é , nos dias de hoje, incompreensível e, por isso, pouco importante. Pouco importante? Ele passa ao lado do que importa. 
Esta imagem de uma parede que uma ou várias pessoas se deram ao trabalho de escrever, de apoio ao PPD fala connosco e diz-nos algo muito importante daquela época, que será a época entre 1974-76, quando o PSD tinha o nome de PPD. Os anos entre 1974 e 1976 são os anos imediatamente a seguir ao 25 de Abril que incluem o PREC. 
Ao contrário do que a narrativa dominante faz crer, ou seja, que o 25 de Abril foi a completa liberdade, que todos andavam felizes, que todos mastigavam cravos, enfim, que a realidade era radiosa, esta parede é um facto indesmentível, contrário à narrativa. Nela o PPD, à época uma força política do centro, é equiparado à liberdade, à paz, ao interesse do povo e à luta contra a ditadura. 
O que esta parede nos diz é que muitos viam e sentiam a tentativa de ditadura e de opressão a dominar o país e muitos viam o PPD como uma esperança de sair dessa ditadura que impunham as forças do PCP e suas irmãs extremistas. A imagem desta parede é uma brecha na ditadura da narrativa de contos de fada que se ensina às crianças de que o 25 de Abril foi a revolução radiosa da total liberdade e que o PCP foi o arauto das liberdades e da defesa do povo. E esta parede escrita, agora parece pouca coisa, mas na época, era preciso ter coragem para escrever isto na parede porque os piquetes do apparatchik controlavam quem desafiava a narrativa da foice e do martelo que oprimiam todas as paredes.

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