A fixação de Marcelo na carreira dos professores é insensata
Mas o período da troika foi devastador para vastos sectores da sociedade portuguesa, que não ficaram apenas com as carreiras congeladas – ficaram sem os seus empregos. É evidente que o Governo deve velar para que não existam classes que tenham o privilégio de recuperar tudo aquilo que perderam, enquanto outras continuam a ver navios, porque não dão aulas, nem consultas. Não percebo que justiça possa ser esta. Nem compreendo que Marcelo volte a dar argumentos para mais uma saraivada de greves, que têm devastado a escola pública.
JMT in publico.
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1. O sector da sociedade portuguesa, em termos de carreiras, que mais trabalhadores perdeu foi a educação: 30 mil professores foram para a rua - fora os assistentes técnicos.
2. Ninguém vai recuperar o que perdeu, mesmo que nos tratem como trataram o resto da administração pública que recebeu 7 anos e tal de tempo congelado e não 2 anos e tal, porque muitos dos professores já se reformaram e aos outros -que estão quase todos perto da reforma- faz-se-lhe o cálculo da reforma pela totalidade da carreira contributiva. O primeiro congelamento da nossa carreira que houve foi de Sócrates, muito antes da troika e os professores ganham hoje menos salário, não em termos relativos, mas em termos absolutos que em 2004. Mas que interessa isso a este comentador, amigo das políticas desastradas deste ME?
3. "Outras"? Que outras carreiras? Ou não diz porque não sabe ou, porque não as há? E que outras carreiras estão sem profissionais sendo serviços essenciais para o futuro do país? Quantas mais grávidas e recém-nascidos têm de morrer para se perceber a importância dos médicos e enfermeiros? E quantas mais pessoas têm de morrer ou ficar estropiadas por médicos, produto do desinvestimento na educação, para que se perceba a importância da educação? Em que outras carreiras há falta de profissionais ao ponto de fecharem hospitais ou haver mais de uma centena de milhar de alunos sem professores, o ano inteiro, a várias disciplinas? Quais?
4. O que devasta a escola pública são as políticas do governo, o facto de não haver professores, de estarem a fazer de professores pessoas que nem têm conhecimentos do que ensinam nem sabem ensinar e a fixação que as pseudo-elites portuguesas têm contra os professores, ao ponto de não se importarem de serem coniventes com o enterro e funeral da escola pública.
Segundo as nossas pseudo-elites, que é bom mesmo é de ano para ano faltarem mais professores nas escolas e médicos nos hospitais, porque depois voltamos ao tempo de Salazar: barrinhas de ouro no banco, os ricos muitos ricos, os pobres muito pobres, mas as continhas certas.
Este comentador, se bem me lembro, escreveu um artigo no tempo da pandemia a defender que os professores deviam ir para as escolas sem máscaras e estar dispostos a morrer para que as filhas dele tivessem uma infância feliz e pudessem ir passar as férias com os vovós, à quinta que têm não sei onde, de maneira que nada disto espanta.
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