Um artigo que não tem ponta por onde se lhe pegue até que lemos no fim a nota em que o autor evela que é um amigo de Galamba. Ok, assim faz sentido.
Costa, com o seu anti-reformismo militante, dispensa a liderança; apenas quer ser um representante [do povo].
Costa pensa ser um grande líder e já várias vezes o vimos e ouvimos dizer que decide sozinho contra a opinião de todo o povo porque ele é que sabe o que é melhor para o povo. Quem dizia isto era o autoritário da ditadura.
António Costa pressupõe que a psicologia do eleitor médio é “conservadora”. (...) Costa está convencido de que a agenda mediática é controlada por uma minoria de viciados da política. Uma minoria ruidosa, só que insignificante.
Ser conservador não é igual a ser burro e não ver o que se passa ou a querer levar o conservadorismo até ao ponto do suicídio. Ainda, havendo viciados na política, Costa é um deles e é dos mais viciados (nunca ninguém esteve tanto tempo no poder - excepto o autoritário da ditadura), pois precisa tanto da dose de poder diária que está disposto a jogar o jogo para ganhar, mesmo que prejudique todos os portugueses com o seu modo de jogar. Portanto, a diferença entre o viciado Costa e os outros viciados (a maioria dos políticos), é que Costa acha todos os outros insignificantes, muito longe da sua excepcionalidade. Mais uma vez, quem pensava isto era o o autoritário da ditadura. Haver pessoas que não se conformem com o socratismo deste governo é considerado por Costa apenas um ruído. Sócrates costumava dizer o mesmo. Porém, contratava Galamba para escrever anonimamente a sua favor pela net.
Costa está sempre a dizer que a “bolha político-mediática” não percebe o sentimento popular, como repetiu no discurso de terça-feira. É por isso que a ideia matriz em que baseou a governação no pós-troika foi a “estabilidade” dos rendimentos... os eleitorados mais fiéis serão sempre os mais dependentes das prestações, pensões e salários do Estado
Costa é que percebe o sentimento popular? A estabilidade dos rendimentos dos funcionários do Estado? Quer antes dizer o descalabro dos rendimentos dos funcionários do Estado. Este senhor não tem visto, desde há 5 anos para cá, as contestações e greves de todos os sectores do Estado: os professores, os médicos, os enfermeiros (a quem Costa chamou bestas), os oficiais de justiça, a GNR, etc.? em que mundo vive? No mundo agalambado.
Uma semana, dois grandes momentos: um de jogador, outro de estadista
De uma forma ou de outra, a resposta que Marcelo Rebelo de Sousa deu a Costa nesta quinta-feira foi irrepreensível.
Uma semana, dois grandes momentos: um de jogador, outro de estadista
De uma forma ou de outra, a resposta que Marcelo Rebelo de Sousa deu a Costa nesta quinta-feira foi irrepreensível.
Francisco Mendes da Silva
1. A grande vantagem de António Costa no jogo da política portuguesa, aquele que provavelmente mais justifica a longevidade da sua carreira, é que os seus adversários, contra a velha lição de Sun Tzu, insistem em ir à luta como se não o conhecessem. Foi o que aconteceu, mais uma vez, no caso da recusa em demitir João Galamba.
Primeira: António Costa define-se politicamente pela psicologia média do eleitorado. Em democracia, todos os políticos devem ser uma mistura de representantes e líderes. Por um lado, têm de respeitar e dar resposta a um certo sentimento geral da população; por outro, têm de apontar à comunidade um caminho de aperfeiçoamento, convencendo e mobilizando maiorias para – como se diz à esquerda – uma “agenda transformadora”. Costa, com o seu anti-reformismo militante, dispensa a liderança; apenas quer ser um representante.
Segunda: António Costa pressupõe que a psicologia do eleitor médio é “conservadora”. Nisso é um herdeiro típico do soarismo. Assim como Mário Soares percebeu que a democracia devia respeitar o “viver habitualmente” dos portugueses, em vez de os afrontar com a truculência revolucionária, Costa acha hoje que a maioria das pessoas não está para se sobressaltar em excesso com a política, apareça-lhes ela na forma de interferências bruscas na organização da sua vida ou na de ciclos noticiosos ininterruptamente obcecados com os dramas da corte. Costa está convencido de que a agenda mediática é controlada por uma minoria de viciados da política. Uma minoria ruidosa, só que insignificante.
É claro que Soares foi o mais consequente dos líderes do PS, enquanto António Costa é para já o mais inconsequente. É claro, também, que a atitude “blasée” do primeiro-ministro, mesmo nos casos mais graves que envolveram o Governo, descamba muitas vezes numa displicência nada “conservadora” perante o declínio da reputação das instituições. Mas é essa atitude que determina todos os seus movimentos. Ou a ausência deles.
É por isso que Costa está sempre a dizer que a “bolha político-mediática” não percebe o sentimento popular, como repetiu no discurso de terça-feira. É por isso que a ideia matriz em que baseou a governação no pós-troika foi a “estabilidade” dos rendimentos – e não qualquer noção política dinâmica, como o “crescimento” ou o “progresso”. É por isso que confia que os eleitorados mais fiéis serão sempre os mais dependentes das prestações, pensões e salários do Estado. E é por isso, aliás, que o Chega e a IL são uma ameaça tão útil. Costa intui que o que eleitorado mais receia não é directamente o radicalismo das ideias, mas a promessa de instabilidade vinda de partidos que, cada um à sua maneira, aparentam querer virar o Estado de pernas para o ar.
É também à luz deste “modus operandi” que a decisão sobre João Galamba devia ter sido prevista. Se António Costa acha que a principal preocupação dos eleitores é não terem de andar sempre a pensar em política, então o que tem de lhes oferecer é a imagem de um chefe zeloso, garante da ordem e da estabilidade, imune aos achaques da “bolha”.
De resto, é bom lembrar que António Costa não é conhecido por ceder à pressão nas demissões de ministros, precisamente porque acha sempre que essa pressão deriva apenas dos comentadores. De Constança Urbano de Sousa a Marta Temido, de Eduardo Cabrita a Miguel Alves, passando por Pedro Nuno Santos – por razões e em condições psicológicas distintas –, todos saíram pelo próprio pé, depois de Costa os ter segurado ou prendido para lá dos limites do razoável. Porque haveria agora de ser diferente com João Galamba?
É extraordinário que ninguém tenha dado como certo o cenário de Costa não demitir o seu ministro. Em momentos de impasse, não está na natureza do comentariado projectar que tudo acabará por ficar na mesma. Mas ficar tudo na mesma é, precisamente, o mantra de António Costa. Nada o move, nada o comove, nada o demove.
2. Não sei se o Presidente da República acertou ou não no que o primeiro-ministro iria fazer. Se estava convencido de que António Costa demitiria João Galamba, arriscou a sua fragilização política quando veiculou para os jornais que exigia essa demissão. Se, pelo contrário, assumiu como certo ou provável que Costa seguraria o seu ministro, a dramatização para que contribuiu, primeiro com um silêncio atípico, depois com uma nota oficial de discordância publicada quando António Costa ainda discursava, só se explicará com a vontade de sublinhar a vertigem deste contra os valores da responsabilidade política.
De uma forma ou de outra, a resposta que Marcelo Rebelo de Sousa deu ontem foi irrepreensível. António Costa justificou a manutenção de João Galamba com base num juízo de ausência de culpa directa nos factos que levaram à polémica, como se o raciocínio que lhe era exigido fosse o de um processo judicial. Marcelo respondeu, liminarmente, que não é isso que está em causa. Não é a responsabilidade pessoal pelo ocorrido; é a responsabilidade política, que é uma responsabilidade objectiva.
Foi o próprio Costa que disse que o caso era deplorável e que contribuía para o desprestígio das instituições. Marcelo limitou-se a lembrar que, quando assim é, a primeira urgência é reafirmar a autoridade do Estado e a confiança que ela nos deve merecer. Como já por várias vezes aqui escrevi, sobre outras situações semelhantes, uma demissão é só um primeiro ritual simbólico pelo qual o Estado admite a responsabilidade por algo que não pode voltar a suceder, através do afastamento da pessoa que circunstancialmente o representa na função em que ocorreu essa falha.
Na terça-feira, António Costa saiu em ombros como um grande jogador político. Ontem, com o seu discurso de Estado, Marcelo mostrou que ele é só isso mesmo: um jogador.
(Declaração de interesses: sou amigo de João Galamba. Os leitores do PÚBLICO têm o direito de me ler sabendo dessa circunstância. Mesmo quando tenho de dizer que ele esteve mal, não é mal o que lhe desejo)
"Um artigo que não tem ponta por onde se lhe pegue até que lemos no fim a nota em que o autor evela que é um amigo de Galamba. Ok, assim faz sentido."
ReplyDeleteBem, e que pensar dos artigos da Dra Beatriz que revela (não explicitamente) que é inimiga dose tudo e de todos?
Deduzo que esteja a favor deste governo que mente, aldraba, faz politiquice, ou seja,faz tudo menos governar.
DeletePara ser mais claro, o Galamba mentiu. Que achei caro disso?
'Inimiga de tudo e de todos' LOL espírito filosófico = espírito crítico, analítico. Devia experimentar. Faz bem à saúde das democracias.
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