May 23, 2023

Fazer de altifalante de slogans




Agora ouve-se muito este slogan que amplia a ideia de que ninguém quer ir para os governos porque o escrutínio mediático é implacável e são logo suspeitos de querer tachos e poleiros. Ainda, que ganham muito mal no Estado em relação ao que se ganha no privado.

Não é verdade que quem vai para o governo é logo suspeito de querer tacho e fica imediatamente manchado pelo escrutínio pidesco dos jornais e do povo. Há ministros neste governo que por vezes são criticados nas suas decisões mas a quem ninguém enxovalha ou chama tachista, como por exemplo, a ministra do ensino superior ou até o ministro da economia. No entanto, convivem com os outros a quem todos chamamos incompetentes e tachistas. Porquê? Porque são pessoas que têm trabalho feito nas suas áreas antes de entrarem para o governo, têm provas dadas, ao contrário de outros cuja carreira foi toda inteira feita dentro dos partidos políticos a ocupar cargos 'de confiança' e a trabalhar com maus resultados. 
Por que razão, quando Mariana Vieira da Silva foi nomeada ministra, no outro governo, saíram artigos de página inteira no Público e outros jornais a dizer que ela era uma cabeça brilhante, uma pessoa de uma competência extraordinária e outras mentiras do género? Porque alguém no governo mandou influenciar a opinião pública para que não se percebesse logo ali que ela era nomeada por ser filha do pai e para fazer uma carreira de tachista. Não é a única a quem fizeram estes favores de tachistas.

Ninguém confunde a ministra do ensino superior com a filha do pai ou com o ministro da educação, outro tachista.

A solução para o descrédito das instituições democráticas não é editar os factos como defende Pacheco Pereira, para que o povo não perceba a extensão do desnorte, corrupção e irresponsabilidade dos governantes, mas manter o escrutínio em relação a esses tachistas até que comecem a ser responsabilizados politicamente pela sua incompetência e deixem de ser chamados para (des)governar.

Quanto ao escrutínio ser grande, pois isso advém das pessoas em geral terem agora mais anos de estudo do que tinham há 20 anos e estarem mais atentas aos seus direitos e aos deveres dos governos. (Não sei se é para resolver isso que o ME, com o apoio do primeiro-ministro, anda a transformar a educação pública num pastoreio de rebanhos de ignorantes amestrados...)

Quanto ao facto de no Estado se ganhar mal, pois isso lembra-me Helena Roseta a dizer, não há muito tempo, que é praticamente obrigatório um político ser corrupto dado que vivem muito mal. A filha dela também já é vereadora na Câmara. Coitada, que sacrifício. Como todos sabemos, os governantes ganham mal e quando saem dos governos ficam desamparados. De repente lembro-me do coitado do Centeno, do coitado do Pinho, da coitada da chefe de gabinete de Galamba... quantas centenas ou milhares deles acabam nas empresas que contrataram enquanto governantes por esse país fora? Quantas relações privilegiadas construíram enquanto governantes? 

São uns coitadinhos e devíamos não os escrutinar para que fossem para o governo ainda mais tachistas do que os que já lá estão. O primeiro-ministro gaba-se de ter um milhão de portugueses na sopa dos pobres, mas não devemos criticá-lo por isso porque a crítica e não a sua incompetência e falta de vergonha é que deslaçam a sociedade.

Se as 'pessoas de bem', como diz esta senhora, não querem ir para os governos, não é por causa do povo que escrutina mas porque não querem estar na companhia de Cabritas e Galambas profissionais. A solução não é afastar o escrutínio mas os Cabritas e os Galambas, os filhos dos pais e outros que tais.

---------------------------

É muito cansativo constatar ano após ano que a toxicidade do debate aumenta e que este se torna cada vez mais desinteressante; ver que o Governo mesmo com maioria absoluta, muita experiência e fundos europeus à disposição, consegue, mês após mês, reforçar a sua inoperância, a sua incompetência e o seu total desprestígio; assistir à degradação das condições de vida das pessoas (com a inflação e as taxas de juro a subir vampirescamente) mesmo que nos digam que o PIB está impecável; e perceber que os média estão mais interessados em promover a ascensão da extrema-direita, numa espécie de profecia autorrealizável, do que em questionar e desconstruir o seu discurso demagógico e populista.

Entendo que seja cada vez mais difícil encontrar pessoas de bem e com competência para exercer cargos políticos. O escrutínio mediático é enorme e às vezes até pidesco e se antes era prestigiante ser ministro, hoje o cargo é visto como um "tacho", ou como um "poleiro", havendo um ónus de desconfiança associado ao mandato. Quase ninguém quer receber menos do que no privado e ir para o Governo para ser chamado de malandro (já que pelos pecadores pagam os justos e o espírito de serviço público há muito que foi desacreditado pelo zeitgeist).

(...)
Ainda assim, por muita compreensão que tenhamos, os últimos meses de achincalhamento das instituições, pelo lado da incompetência política e pelo lado de quem alimenta as polémicas, tem sido um desserviço perigoso à nossa democracia


No comments:

Post a Comment