April 07, 2023

Um professor em greve de fome pela escola pública

 

Luís Sottomaior Braga, subdiretor do Agrupamento de Escolas da Abelheira, Viana do Castelo, diz que a greve de fome que vai iniciar é um mecanismo da desobediência civil. Responsabiliza o primeiro-ministro, o ministro da Educação e o Presidente da República se algo lhe acontecer.

Após vários meses marcados por vigílias, manifestações, greves e petições, o professor Luís Sottomaior Braga diz ser necessário passar "ao nível seguinte" para que os protestos surtam efeito. Por isso, decidiu dar início a uma greve de fome a partir de segunda-feira, tratando-se, explica ao DN, de "um mecanismo da desobediência civil".

Este [a luta dos professores] é um dos maiores movimentos sociais que o país já viu e o governo fecha os olhos ao que se passa e acredita que os professores se vão cansar. 

O também especialista em Gestão e Administração escolar acusa o governo de lançar "uma série de ideias falsas, enquanto tenta deixar passar a enxurrada". Diz, por isso, ser necessário passar "para outro patamar", não restando outra alternativa que não a da greve de fome. 

"Podíamos evoluir para um modelo de contestação como está a acontecer em França, o que é inaceitável para os professores, pois respeitamos o Estado de Direito ou escolher a desobediência civil", refere. Segundo Luís Sottomaior Braga, "a greve de fome imputa responsabilidades aos outros". E esses outros, explica, são os governantes, com especial incidência no Presidente da República, que pode "não promulgar o decreto do novo modelo de concurso"."O Presidente da República disse que queria um acordo até à Páscoa, o que não aconteceu. 

Vai promulgar um decreto-lei, numa questão central, com as negociações sem rumo, e sem acordo? 

Os professores estão diariamente a enviar emails para a Presidência da República questionando isso mesmo. Marcelo Rebelo de Sousa pode vetar esse decreto-lei", alerta. O dirigente escolar afirma que um dos objetivos da greve de fome é pressionar "o Presidente da República para que assuma uma política dura e fazer o que disse que ia fazer" e para "sinalizar que o governo tem de mostrar mais boa-fé negocial". 

Mas estes são apenas dois dos objetivos do protesto que será feito junto a uma escola pública de Viana do Castelo (ainda a definir). O protesto "radical" tem como base a "luta pela escola pública". "Não lutamos até agora só pela melhoria dos salários, mas sim muito pela escola pública de qualidade, que passa por problemas de avaliação, o excesso de burocracia, o Projeto Maia que está a destruir o funcionamento das escolas, a falta de recursos para a inclusão, entre muitos outros problemas. São questões de direito fundamental e, como cidadão, devo potenciar essa luta", sublinha.

O problema das quotas para subida de escalão na carreira docente e o do congelamento de mais de seis anos de tempo de serviço levará, segundo Luís Sottomaior Braga, a que "muitos professores se transformarão em reformados pobres". "Com a greve de fome estou também a lutar pela minha reforma e a dos meus colegas, pois vamos ser reformados pobres. Se nós não fizermos nada, vamos ter reformas miseráveis e, daqui a 20 anos, quero poder dizer, se for um reformado pobre, que lutei de todas as formas para que isso não acontecesse", vinca.

Luís Sottomaior Braga acredita que o governo "anda a brincar às negociações", quando, na verdade, "não pretende ceder". "O governo apresenta propostas que são ofensivas. Este governo que mente, que manipula números, que diz que negoceia e não o faz, levou a este protesto que dura há meses. E os professores estão, acima de tudo, tristes e revoltados com o facto de as instituições não estarem a funcionar. Acredito na democracia, mas não funciona. Se funcionasse, não estaríamos há meses com protestos", lamenta.

E é com tristeza e revolta que o dirigente escolar entra em greve de fome, "um sacrifício pessoal", enquadrado numa luta coletiva que tem marcado este ano letivo.

DN

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