April 20, 2023

Filmes - "C'est quelque chose qui cloche entre les hommes et les femmes"

 

La Nuit du 12 é um filme francês sobre um inquérito de homicídio ocorrido em França, em Grenoble, em 2016. A abrir o filme é-nos dito que todos os anos em França a polícia judiciária abre cerca de 800 inquéritos de homicídio e que 20% ficam por resolver. Ficamos logo a saber que este é um inquérito sem resolução. Apesar disso, quer dizer, de sabemos que acompanhamos um caso sem desfecho, o filme vê-se com um interesse crescente, porque na verdade não é sobre os homicídios em si (embora também seja) mas sobre o impacto que têm nos outros e, desde logo, nos polícias. É um filme sobre as pessoas que vivem a violência, nomeadamente aquelas que a vivem como profissão.

O homicídio é o de uma rapariga como as outras na casa dos vinte anos que é morta de uma maneira brutal (alguém atira-lhe combustível para a cara e pega-lhe fogo) sem nenhum motivo aparente. A rapariga é filha de alguém que nem suspeita que a pouca distância da casa onde vivem está ela no chão da rua, como se fosse um bocado de lixo, meio-carbonizada da cintura para cima e perfeitamente normal da cintura para baixo - vestida com uns calções de ganga e uns ténis. A cena dos polícias a dizerem à mãe é uma coisa brutal. Um dos polícias, muito experiente, quando está a informar a mãe, de repente olha para uma parede e vê a fotografia alegre da rapariga e fica completamente bloqueado.

O filme começa com a festa de despedida de um polícia que se reforma e a entrada de um novato que o substitui e acompanhamos a investigação ao homicídio e o impacto que o contacto diário com a violência extrema e gratuita tem nos polícias: famílias desfeitas, ansiedade, depressão, desorientação, violência, carência. A violência que testemunham é quase toda dos homens e é exercida, sobretudo, nas mulheres: facadas, murros, sovas, violência psicológica, assassinatos por estrangulamento, tiros, pancada, muitas vezes com crianças como testemunhas. De vez em quando um dos polícias passa-se e descarrega a sua frustração em cima de alguém.

A certa altura, passados três anos, quando o inquérito já foi arrumado numa gaveta, uma nova juíza de instrução pede para falar com o chefe da equipa e pergunta-lhe o que se passou com o caso e ele fala em falta de recursos e em algo ter corrido mal na investigação e nem sequer saberem o quê. Às vezes acontece, diz ele, e passamos o resto da vida com esses fantasmas na cabeça, esses injustiçados. 

"Há qualquer coisa que não funciona entre os homens e as mulheres", diz o chefe da PJ à juíza- "são eles que matam e elas que morrem e nem sempre somos capazes de resolver os casos. Todos os nosso suspeitos deste caso podiam ser o assassino e fico com a ideia de que, se não o apanharmos, todos esses homens a mataram". Quer dizer, não basta a vivência diária com a violência ainda têm a outra violência da culpa de não conseguirem um desfecho de justiça para as vítimas e para as suas famílias.

Qualquer coisa não funciona no mundo em que vivemos. Como dizia Sandel num pequeno o vídeo que vimos ontem, uma juiza do Supremo ganha 200 mil dólares por ano, mas a Judge Judy do show televisivo ganha 60 milhões por ano. Da mesma maneira um polícia ganha 25 mil euros por ano, mas o actor que faz de inspector na série Luther ganha 1 milhão por episódio. Il y a quelque chose qui cloche avec la valorisation des professions dans notre société. 


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