Para o ano a minha escola oferece o grego como disciplina de opção do 12º ano. Temos duas professores na escola que (também) ensinam grego. Espero que, havendo alguns alunos interessados, o ME deixe abrir uma turma de grego com menos de 20 alunos (que é o número mínimo para uma turma funcionar - o imperativo categórico da escola pública é poupar dinheiro) porque precisamos de quem saiba ler e traduzir o grego dos Antigos, que são uma fonte de imensa de sabedoria, para a actualidade. A partir do ministério da Rodrigues a escola passou a ter como imperativo poupar dinheiro e à conta disso foram reduzindo as disciplinas e aumentando o número de alunos das turmas. Crato por exemplo, pensava que aprender Português e Matemática era mais ou menos o necessário e cortou muitas disciplinas, reduziu outras, bem como a possibilidade de se poder abrir turmas pequenas nas disciplinas de opção.
A irradiação da língua grega no mundo
Vassilis Papadopoulos
O grego é talvez a única língua no mundo que tem sido falada sem interrupção desde há mais de 40 séculos. Desde o século VIII a.C., o grego tem sido escrito no mesmo alfabeto, o grego, que é o primeiro alfabeto verdadeiramente estruturado, no sentido em que inclui não só as consoantes, mas também as vogais. Dos quatro dialetos básicos do grego, o dialeto ático, falado em Atenas, prevaleceu, graças ao grande desenvolvimento cultural da cidade. Tornou-se a língua do comércio e do intelecto e levou à decisão histórica de Filipe II de a adotar como língua oficial da corte macedónia, substituindo o dialeto dórico. Esta decisão viria a revelar-se histórica, porque permitiu que a língua grega, na sua versão ática, se tornasse o veículo básico para a disseminação posterior da cultura grega nas conquistas de Alexandre (Magno).
Com o estabelecimento de colónias gregas nas margens do Mediterrâneo e do Mar Negro, a osmose e transmissão da cultura grega aos habitantes nativos perto das colónias gregas estendeu-se também à língua grega. Os Gauleses adquiriram um alfabeto de Marselha, sem falar grego, os Etruscos de Kymi no sul de Itália e de Ísquia. O alfabeto grego de Cálcis foi transferido para a "Grande Grécia" (Magna Grécia), e depois para a colónia calcidiana de Nápoles em Itália e, de lá, evoluiu para o alfabeto latino e espalhou-se por toda a península itálica, à Roma e mais tarde à Europa e América.
As conquistas de Alexandre Magno e a criação de um vasto império colocaram num ápice e forçosamente em contacto dezenas de povos do Oriente com a língua, costumes, cultura e modo de vida gregos. Nessa divulgação ajudaram os filólogos alexandrinos, que criaram uma simplificação decisiva do dialeto ático comum, adotando muitas mudanças que tinham vindo do vernáculo. Assim, a antiga Literatura Grega, as artes e as ciências foram mais facilmente divulgadas. No Egito, a fundação da Biblioteca e Museu de Alexandria transformou este antigo reino num centro de cultura grega.
Com a conquista romana da Grécia, da Anatólia, do Médio Oriente e do Egito, a cultura grega, em vez de ser assimilada pelos conquistadores, impressionou-os de tal forma que adotaram grande parte dela, alterando mesmo os parâmetros básicos da sua religião, costumes e modo de vida. O latim ainda é a língua oficial em Roma, mas a classe dominante do Império Romano considera imperativo estudar o grego como uma segunda língua. O Império Romano também alargou o alcance da língua grega, especialmente no Ocidente e no Norte da Europa. A cultura grega chega à Bretanha, à Germânia e à atual Roménia. No Império Romano Oriental, contudo, a língua de comunicação permaneceu a koinê helenística ("língua comum"), estabelecida como a língua do comércio e dos negócios. Além disso, isto permitiu a rápida difusão do cristianismo, sempre através da língua grega. Os quatro Evangelhos foram escritos em grego.
Em Bizâncio, a língua grega tornou-se língua oficial do Estado em 726, enquanto que começou a propagação da cultura grega através da língua grega aos Árabes. Notáveis filólogos árabes traduzem a Literatura Grega Antiga, que é assim difundida de Marrocos e Espanha para a orla da Índia. As traduções siríacas e arménias de Aristóteles (séculos VI-VIII) continuam a ser hoje as principais fontes de conhecimento da sua obra.
No século IX d.C., o Império Bizantino seguiu uma política de cristianização das nações eslavas. Figuras centrais nesta política são os monges gregos Cirilo e Metódio, que inventaram o alfabeto eslavo - uma variante do alfabeto grego - que permitiu aos povos eslavos entrarem em contacto com a cultura greco-romana e cristã. É ainda hoje largamente utilizado na maioria das línguas eslavas. As letras (do alfabeto), a gramática e estrutura sintática da língua influenciaram a estrutura organizada da gramática e sintaxe da antiga língua russa, com vestígios ainda hoje visíveis em russo, ucraniano e bielorrusso, integrando a Rússia, Bielorrússia e Ucrânia na cultura cristã europeia.
A transferência, ou melhor, o regresso da civilização grega à Europa Ocidental, inicialmente através dos Árabes e dos Cruzados e depois através dos intelectuais gregos que escaparam à conquista otomana, cria novamente um renascimento cultural no Ocidente, sob a forma de Humanismo, o movimento que libertou o conhecimento do domínio exclusivo da Igreja. A língua grega torna-se novamente um recurso indispensável para intelectuais, professores das universidades recém-construídas, líderes da igreja, reis e aristocratas. Em 1360, a primeira cátedra de grego foi fundada em Florença, por iniciativa de Boccaccio.
A partir do século XV, iniciou-se a produção de dicionários e gramáticas de grego, sendo a primeira (1476) o Compêndio das oito partes do discurso de K. Laskaris, que é o primeiro livro grego datado. Desde o Renascimento até hoje, a educação ocidental tem estado indissociavelmente ligada ao grego: a familiaridade com a Literatura Grega Antiga era evidente, pelo menos até à Segunda Guerra Mundial, para todos os cientistas e intelectuais da Europa e da América.
A sobrevivência da língua grega na Grécia após a conquista otomana também é impressionante. Os gregos aprendem a sua língua com enormes obstáculos, sobretudo graças à Igreja. No século XVIII, foram criadas escolas onde havia um elemento grego, de Alexandria a Bucareste. O Estado grego, criado em 1830, fez um esforço consciente para restabelecer a ligação entre a língua antiga e o vernáculo, antes de finalmente o estabelecer como língua oficial.
Nesta história ininterrupta, vale a pena recordar que a língua grega é única e que não se limitou a fornecer palavras a outras línguas, ou letras. Ofereceu conceitos expressos por essas palavras, que não existiam antes de serem inventados na Grécia, como o conceito de cidadania, a participação cívica, o teatro, o desporto, a democracia, o contacto direto com Deus. Conceitos que permitiram à cultura grega dar um contributo verdadeiramente decisivo para a estrutura cultural global, moldando em grande medida o sistema cultural, político e económico em que vive hoje a grande maioria das pessoas no nosso mundo.
Embaixador da Grécia em Portugal
O grego é talvez a única língua no mundo que tem sido falada sem interrupção desde há mais de 40 séculos. Desde o século VIII a.C., o grego tem sido escrito no mesmo alfabeto, o grego, que é o primeiro alfabeto verdadeiramente estruturado, no sentido em que inclui não só as consoantes, mas também as vogais. Dos quatro dialetos básicos do grego, o dialeto ático, falado em Atenas, prevaleceu, graças ao grande desenvolvimento cultural da cidade. Tornou-se a língua do comércio e do intelecto e levou à decisão histórica de Filipe II de a adotar como língua oficial da corte macedónia, substituindo o dialeto dórico. Esta decisão viria a revelar-se histórica, porque permitiu que a língua grega, na sua versão ática, se tornasse o veículo básico para a disseminação posterior da cultura grega nas conquistas de Alexandre (Magno).
Com o estabelecimento de colónias gregas nas margens do Mediterrâneo e do Mar Negro, a osmose e transmissão da cultura grega aos habitantes nativos perto das colónias gregas estendeu-se também à língua grega. Os Gauleses adquiriram um alfabeto de Marselha, sem falar grego, os Etruscos de Kymi no sul de Itália e de Ísquia. O alfabeto grego de Cálcis foi transferido para a "Grande Grécia" (Magna Grécia), e depois para a colónia calcidiana de Nápoles em Itália e, de lá, evoluiu para o alfabeto latino e espalhou-se por toda a península itálica, à Roma e mais tarde à Europa e América.
As conquistas de Alexandre Magno e a criação de um vasto império colocaram num ápice e forçosamente em contacto dezenas de povos do Oriente com a língua, costumes, cultura e modo de vida gregos. Nessa divulgação ajudaram os filólogos alexandrinos, que criaram uma simplificação decisiva do dialeto ático comum, adotando muitas mudanças que tinham vindo do vernáculo. Assim, a antiga Literatura Grega, as artes e as ciências foram mais facilmente divulgadas. No Egito, a fundação da Biblioteca e Museu de Alexandria transformou este antigo reino num centro de cultura grega.
Com a conquista romana da Grécia, da Anatólia, do Médio Oriente e do Egito, a cultura grega, em vez de ser assimilada pelos conquistadores, impressionou-os de tal forma que adotaram grande parte dela, alterando mesmo os parâmetros básicos da sua religião, costumes e modo de vida. O latim ainda é a língua oficial em Roma, mas a classe dominante do Império Romano considera imperativo estudar o grego como uma segunda língua. O Império Romano também alargou o alcance da língua grega, especialmente no Ocidente e no Norte da Europa. A cultura grega chega à Bretanha, à Germânia e à atual Roménia. No Império Romano Oriental, contudo, a língua de comunicação permaneceu a koinê helenística ("língua comum"), estabelecida como a língua do comércio e dos negócios. Além disso, isto permitiu a rápida difusão do cristianismo, sempre através da língua grega. Os quatro Evangelhos foram escritos em grego.
Em Bizâncio, a língua grega tornou-se língua oficial do Estado em 726, enquanto que começou a propagação da cultura grega através da língua grega aos Árabes. Notáveis filólogos árabes traduzem a Literatura Grega Antiga, que é assim difundida de Marrocos e Espanha para a orla da Índia. As traduções siríacas e arménias de Aristóteles (séculos VI-VIII) continuam a ser hoje as principais fontes de conhecimento da sua obra.
No século IX d.C., o Império Bizantino seguiu uma política de cristianização das nações eslavas. Figuras centrais nesta política são os monges gregos Cirilo e Metódio, que inventaram o alfabeto eslavo - uma variante do alfabeto grego - que permitiu aos povos eslavos entrarem em contacto com a cultura greco-romana e cristã. É ainda hoje largamente utilizado na maioria das línguas eslavas. As letras (do alfabeto), a gramática e estrutura sintática da língua influenciaram a estrutura organizada da gramática e sintaxe da antiga língua russa, com vestígios ainda hoje visíveis em russo, ucraniano e bielorrusso, integrando a Rússia, Bielorrússia e Ucrânia na cultura cristã europeia.
A transferência, ou melhor, o regresso da civilização grega à Europa Ocidental, inicialmente através dos Árabes e dos Cruzados e depois através dos intelectuais gregos que escaparam à conquista otomana, cria novamente um renascimento cultural no Ocidente, sob a forma de Humanismo, o movimento que libertou o conhecimento do domínio exclusivo da Igreja. A língua grega torna-se novamente um recurso indispensável para intelectuais, professores das universidades recém-construídas, líderes da igreja, reis e aristocratas. Em 1360, a primeira cátedra de grego foi fundada em Florença, por iniciativa de Boccaccio.
A partir do século XV, iniciou-se a produção de dicionários e gramáticas de grego, sendo a primeira (1476) o Compêndio das oito partes do discurso de K. Laskaris, que é o primeiro livro grego datado. Desde o Renascimento até hoje, a educação ocidental tem estado indissociavelmente ligada ao grego: a familiaridade com a Literatura Grega Antiga era evidente, pelo menos até à Segunda Guerra Mundial, para todos os cientistas e intelectuais da Europa e da América.
A sobrevivência da língua grega na Grécia após a conquista otomana também é impressionante. Os gregos aprendem a sua língua com enormes obstáculos, sobretudo graças à Igreja. No século XVIII, foram criadas escolas onde havia um elemento grego, de Alexandria a Bucareste. O Estado grego, criado em 1830, fez um esforço consciente para restabelecer a ligação entre a língua antiga e o vernáculo, antes de finalmente o estabelecer como língua oficial.
Nesta história ininterrupta, vale a pena recordar que a língua grega é única e que não se limitou a fornecer palavras a outras línguas, ou letras. Ofereceu conceitos expressos por essas palavras, que não existiam antes de serem inventados na Grécia, como o conceito de cidadania, a participação cívica, o teatro, o desporto, a democracia, o contacto direto com Deus. Conceitos que permitiram à cultura grega dar um contributo verdadeiramente decisivo para a estrutura cultural global, moldando em grande medida o sistema cultural, político e económico em que vive hoje a grande maioria das pessoas no nosso mundo.
Embaixador da Grécia em Portugal
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