Estive a ver o final de um programa na RTP África sobre a prisão e tortura da PIDE - apanhei os últimos 15 minutos sobre a prisão de resistentes-mulheres pela PIDE e, em particular, sobre uma funcionária da PIDE chamada, A Leninha, especialmente sádica e violenta com as prisioneiras. Falaram algumas ex-prisioneiras, uma delas a Conceição Matos, militante do PCP, casada com Domingos Abrantes.
O relato da sua prisão e tortura, primeiro às mãos do inspector Tinoco e depois da tal Leninha é impressionante pela violência e intenção de degradação. Tenho muito respeito por estas pessoas que se empenhavam na resistência à ditadura, sabendo que as probabilidades de serem presas e torturadas eram grandes.
Também fazem parte do programa (uma investigação de Ana Aranha que também fala) a historiadora Irene Pimentel (penso que o programa acompanha um livro de entrevistas a prisioneiros da PIDE, do qual faz parte como prefaciadora) e uma escritora cujo nome não fixei. Estas duas vão enquadrando e contextualizando os relatos das resistentes, ex-prisioneiras da PIDE.
Essa tal escritora, já no fim, diz que os PIDES, torturadores sádicos e violentos, eram pessoas como as outras, alguns bons pais de família e compara-os com os Nazis - tal como eles, diz, tinham uma pseudo-justificação moral de valores da Pátria para legitimar a tortura que faziam.
Compreendo que as ex-prisioneiras, tendo sido torturadas e sujeitas a violência e humilhações por forças da direita portuguesa, lhes tenham ódio e que identifiquem a violência e a ditadura com a ideologia da direita - da mesma maneira que nos dias de hoje os ucranianos têm um ódio de morte aos russos a quem tratam de Orcs e outras coisas piores.
Já não compreendo que historiadores ou escritores que estudam os eventos e que têm um dever de objectividade, tenham essa cegueira de falar das ditaduras e de polícias torturadoras, como se fossem exclusivas das ideologias de direita. Os soviéticos, gente da esquerda, têm uma história de extrema violência até aos mais altos cargos do Estado (muitos chefes sádicos, torturadores do KGB acabaram em altos cargos do Estado) durante dezenas de anos, ao pé de quem os PIDES parecem pequenos aprendizes. Quem fala dos soviéticos fala dos agentes de Mao, da Coreia dos Khmer Rouge, de Cuba...
Tenho muito respeito por todos os que foram presos e sofreram as torturas e humilhações da PIDE, mas não tenho um átomo de respeito pelos construtores de narrativas que evidenciam cegueira intelectual e moral e que endoutrinam os outros, tentando constituir-se como figuras de autoridade para validar a sua cegueira.
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