Venho de ouvir o "Holandês Voador" de Wagner no CCB. Espectacular. Absolutamente espectacular. Adorei a encenação. Fui ver quem é o encenador: Max Hoehn. Muito moderna, minimalista a tirar o máximo efeito dos adereços e das luzes de modo a fazer sobressair a atmosfera da música. Todo o primeiro acto é em três cores, apenas: vermelho, negro e branco. Toda a movimentação dos cantores e do coro é de grande efeito dramático, às vezes quase escultórico. Muito dinamismo e imaginativo na maneira de evocar as ondas do mar, as tempestades e os espíritos dos marinheiros fantasmas.
A música de Wagner, como se sabe, vai do maior clímax dramático a trechos de grande majestade e de exuberância que caem de repente no mais puro lirismo romântico encantador. Esta ópera foi o primeiro grande êxito de Wagner e há trechos em que 'ouvimos' já as Valquírias, outros em que se adivinha o Tristão (os últimos minutos da ópera).
Todos os cantores foram bons mas o Holländer, cantado por Tómas Tómasson, um barítono islandês, um baixo-barítono (este da fotografia), é de uma categoria superior. Estávamos no 1º acto a ouvir o capitão do barco (um baixo) a cantar muito bem, numa atmosfera escura e meio tenebrosa, quando um corpo embrulhado numa capa negra começa a rolar lentamente até à boca do palco num efeito dramático extraordinário. De repente levanta-se um indivíduo enorme e começa a cantar com um enorme vozeirão de barítono sem nunca perder a clareza e a musicalidade da voz. Toma conta da cena. Fui procurar ao YouTube um excerto de uma actuação dele para pôr aqui, mas é tudo tão infinitamente distante da qualidade dele ao vivo, que desisti. O indivíduo tem uma voz e uma presença wagnerianas do melhor que se pode ver e sempre que ele está em palco, toda a cena e os outros cantores ficam carregados de energia. Nós estávamos no meio da segunda fila e o efeito da voz dele é indescritível. Uma voz rica e sombria. Depois, os seus gestos, a figura e a maneira como a iluminação caí sobre as suas mãos no meio da penumbra, fazia com que parecesse uma coisa fantasmagórica mesmo. Excepcional.
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