April 25, 2023

A night at the opera

 


Venho de ouvir o "Holandês Voador" de Wagner no CCB. Espectacular. Absolutamente espectacular. Adorei a encenação. Fui ver quem é o encenador: Max Hoehn. Muito moderna, minimalista a tirar o máximo efeito dos adereços e das luzes de modo a fazer sobressair a atmosfera da música. Todo o primeiro acto é em três cores, apenas: vermelho, negro e branco. Toda a movimentação dos cantores e do coro é de grande efeito dramático, às vezes quase escultórico. Muito dinamismo e imaginativo na maneira de evocar as ondas do mar, as tempestades e os espíritos dos marinheiros fantasmas. 

A música de Wagner, como se sabe, vai do maior clímax dramático a trechos de grande majestade e de exuberância que caem de repente no mais puro lirismo romântico encantador. Esta ópera foi o primeiro grande êxito de Wagner e há trechos em que 'ouvimos' já as Valquírias, outros em que se adivinha o Tristão (os últimos minutos da ópera). 

Todos os cantores foram bons mas o Holländer, cantado por Tómas Tómasson, um barítono islandês, um baixo-barítono (este da fotografia), é de uma categoria superior. Estávamos no 1º acto a ouvir o capitão do barco (um baixo) a cantar muito bem, numa atmosfera escura e meio tenebrosa, quando um corpo embrulhado numa capa negra começa a rolar lentamente até à boca do palco num efeito dramático extraordinário. De repente levanta-se um indivíduo enorme e começa a cantar com um enorme vozeirão de barítono sem nunca perder a clareza e a musicalidade da voz. Toma conta da cena. Fui procurar ao YouTube um excerto de uma actuação dele para pôr aqui, mas é tudo tão infinitamente distante da qualidade dele ao vivo, que desisti. O indivíduo tem uma voz e uma presença wagnerianas do melhor que se pode ver e sempre que ele está em palco, toda a cena e os outros cantores ficam carregados de energia. Nós estávamos no meio da segunda fila e o efeito da voz dele é indescritível. Uma voz rica e sombria. Depois, os seus gestos, a figura e a maneira como a iluminação caí sobre as suas mãos no meio da penumbra, fazia com que parecesse uma coisa fantasmagórica mesmo. Excepcional.

Ainda há duas récitas da ópera, amanhã e depois de amanhã, para quem goste de Wagner. Estas vozes e este nível de representação não se vêem todos os dias. No fim a casa veio abaixo, como se costuma dizer.


Também gostei muito da soprano, Gabriela Scherer. Uma voz muito bonita. São ambos novos e têm muitos anos de canto pela frente.

Fui ao site da operabase ver onde é que ele anda a cantar nos próximos meses mas é longe.
 
Tenho pena que não tenham gravado esta representação. Se eu soubesse que era assim tão boa tinha comprado bilhetes para todos os dias. Foi tudo bom, dos músicos aos cantores, do encenador ao coro. 

Para quem não sabe a história do Holandês Voador imagine uma espécie de Piratas das Caraíbas em versão melodramática, machista 😁 Wagner era machista, racista e anti-semita, mas fazia uma música de nos pôr nos céus de maneira que tudo lhe perdoamos 😁... estou aqui numa excitação que nem tenho sono...

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