March 10, 2023

O ME trabalha apenas para a 'sua' aproximação a Bruxelas e entretanto atira os professores e a educação pública para o abismo

 


Professores longe da idade de reforma ponderam deixar a profissão e alguns já estão mesmo a tomar medidas
Manuela Micael

O alerta é do Sindicato Independente dos Professores e Educadores (SIPE), que assegura ter recebido, nas últimas semanas, "inúmeros" pedidos de esclarecimento sobre as consequências de se demitirem.
Alguns por email e muitos por telefone. Temos recebido inúmeros pedidos para saberem quais as consequências de se despedirem, mesmo estando nos quadros. Com o novo diploma, (...) não podem tentar a mobilidade interna e não podem tentar a aproximação à residência. São do Norte e são obrigados a ficar em Lisboa, ou no Algarve, por exemplo, diz à CNN Portugal Júlia Azevedo, dirigente do SIPE.
“Na minha geração, já havia mais professores no Norte do que em Lisboa e no Sul. E éramos obrigados a afastar-nos da nossa residência. Mas os vencimentos davam para arrendar uma casa e os professores tinham outra idade. Nada foi feito para mudar o cenário e os professores agora têm 40 e muitos anos e as famílias formadas. E o vencimento é muito menor. Como se pode pedir a um professor que, aos 40 anos, abandone a sua família, com um salário que não dá para pagar uma casa?”, questiona Júlia Azevedo.


A última ronda de negociações e a aproximação “ao abismo”

Governo e sindicatos voltam esta quinta-feira à mesa das negociações. O ministro João Costa disse, na terça-feira, que espera encerrar o processo negocial em torno do modelo de recrutamento e colocação de professores e assegura que o Governo fez aproximações “quase históricas” a muitas das reivindicações dos sindicatos.

'Aproximação só se for ao abismo. Fico perplexo. Nem tenho adjetivação já', classifica André Pestana, dirigente do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (S.TO.P.).
Os professores são obrigados a concorrer a nível nacional e se não concorrerem são expulsos da função pública. Se concorrerem a quatro, cinco ou 10 QZP [Quadro de Zona Pedagógica] e não ficarem, no ano seguinte não podem concorrer. Há colegas que nos ligam desesperados, numa angústia muito grande”, corrobora Júlia Azevedo.

André Pestana acusa o ministro de se “recusar a negociar o que tem levado os professores para as ruas e de não apresentar contrapropostas às sugestões levadas à mesa das negociações pelos sindicatos.

Há outras linhas vermelhas que impedem os sindicatos de assinar por baixo a proposta do Governo. Uma delas é a contagem do tempo de serviço, os tais seis anos, seis meses e 23 dias que continuam congelados na carreira dos docentes do continente.
Não tem de ser já tudo. Tem de haver é uma contraproposta séria e o Governo tem de assumir um compromisso em dois anos, até final da legislatura”, exemplifica André Pestana.
Os professores reclamam ainda a contratação de mais profissionais não docentes para as escolas e com salários dignos. “Os assistentes operacionais recebem salários de miséria - trabalharam 35 anos na escola pública e levam 709 euros líquidos para casa. Imaginem o que é trabalhar uma vida inteira e ir ao supermercado ou pagar uma habitação com 709 euros”, exorta o dirigente do S.TO.P.

Quanto à plataforma sindical, inquiriu os seus associados e, entre as formas de luta mais votadas, esteve a greve por distritos e a greve às avaliações. Poderão ser esses os próximos passos a considerar por FNE, SIPE, ASPL, FENPROF, PRÓ-ORDEM, SEPLEU, SINAPE, SINDEP e SPLIU. Júlia Azevedo, dirigente do SIPE, avança à CNN Portugal que vão também “pedir que saia dali [da reunião de hoje] uma data para se reabrirem os próximos processos negociais, até para apaziguar a contestação”.

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