Quem diz advogado, diz médico (muita gente não percebeu ainda a proletarização da profissão em curso), engenheiro aeroespacial, etc. Podem nem sequer saber o suficiente da Língua portuguesa, mas como não há praticamente avaliações e é obrigatório passar todos, vão passando com 4s, se cumprirem razoavelmente, dado o sistema de compensação de notas de 1 e 2 para 3, de 3 para 4, etc. Se forem inteligentes e razoavelmente cultos, mesmo fazendo relativamente pouco, passam até ao 9º ano sempre com nota 5.
Depois entram para o secundário, que ainda não foi subjugado com os projectos de passarem todos de qualquer maneira e ainda tem uma maioria de professores dos tempos anteriores à Lurdes Rodrigues e aos incompetentes que se lhe seguiram, que resiste ao facilitismo, portanto, dizia, entram para o secundário com 5s, a sonhar ser advogados, mas não conseguem passar da nota 12 ou 14.
São 10 anos de escolaridade sem hábito de ter de estudar, ter de trabalhar, ter de concentrar-se, ser capaz de estar afastado do telemóvel, sem métodos de estudo, com zero autonomia, nenhum hábito de ter avaliações diversificadas, concentradas em certas alturas do período, com prazos a cumprir, muitos já com falhas de meses ou até anos em mais de uma disciplina por não terem tido professores ou terem tido 4 professores em meio ano, etc.
Alguns, sobretudo se os pais investem e colaboram, percebem que têm de fazer ajustamentos ao seu ritmo de estudo e trabalho, que têm de fazer um esforço acrescido, colaboram connosco e entre ambos, pais e professores, conseguimos que os alunos se adaptem e evoluam em termos de resistência à frustração, autonomia e melhoramento de recursos intelectuais. Mas não a maioria. A maioria pensa que pode continuar no mesmo ritmo e lógica do básico e não conseguem as notas que precisam para entrar num curso de Direito, muito menos de medicina ou de engenharia aeroespacial que obrigam a ter médias de 18 durante os 3 anos do secundário e depois nos exames. É preciso uma grande disciplina, consistência e bons métodos para isso.
Portanto, o que acontece é que a maioria entra para outro curso que tenha nota de entrada mais baixa ou entra à tabela para Direito, faz um curso nos mínimos (porque já na universidade há pressão para passar todos, por causa das propinas - os cursos universitários são vistos de um ponto de vista economista e empresarial) e depois chumba no exame da Ordem.
E o que sobra para nós, professores das escolas? Sobra uma realidade de dezenas de alunos em ansiedade ou depressão por não terem notas de 18, quando entraram no secundário a pensar que eram alunos de excelência (como se a excelência fosse a norma e não a excepção) e não têm nenhuma noção do trabalho que implica ser um aluno de excelência; sobra os pais virem à escola chamar-nos nomes, dizer-nos que a culpa da infelicidade dos filhos é nossa que não lhes 'damos' 18s, ou que embirramos com os filhos (pois de outro modo como se explica que não tenham 18s?), etc.
Como os ministros da educação e os primeiros-ministros dão o exemplo de uma ética imoral de tratar mal os professores e fazer campanhas nos meios de comunicação social a denegrir-nos para ganharem a sociedade civil contra nós (falo dos ministros da educação desde a Rodrigues e dos primeiros-ministros, Sócrates, Passos Coelho e Costa, que neste aspecto são como clones uns dos outros), os pais seguem o exemplo e vão às escolas dizer-nos, como me disse uma mãe há uns poucos anos, porque queria à força ser ela a escolher quais as regras do regulamento de escola e da lei que seguia e não seguia (à maneira do que fazem estes novos governos), 'nós somos os pais, nós é que mandamos em vocês, nós é que pagamos a escola [como se nós não descontássemos impostos] e vocês têm que fazer o que dizemos, porque os filhos são nossos' - não percebem que os filhos e os alunos são realidades diferentes.
Depois, dado o sistema que a Lurdes Rodrigues criou de haver directores com poderes totais e uma corte de acólitos que mantêm a escola num sistema feudal, os professores são deixados à sua sorte: ou têm a sorte de estar numa escola onde o director não é um acólito do ministro ou um choninhas cobarde ou não têm essa sorte e são deixados completamente sozinhos para terem que lidar com as frustrações, falta de educação e de respeito seja dos alunos, seja dos pais, a quem os ministros enfiam na cabeça que todos podem ser qualquer coisa com aprendizagens nos mínimos dos mínimos e que se não forem a culpa é dos professores.
"Que conhecimentos têm futuros quadros superiores?" Temos que habituar-nos a uma descida drástica da qualidade e, o que sobra para nós, professores, é um trabalho de um stress e desgaste monumentais porque o ministro não só detesta professores como agradece a qualquer um que se ponha do lado dele contra os professores e os deixe sozinhos a terem que lidar com todos os problemas sociais que não sabem resolver:
- frustrações, desemprego, doenças mentais, delinquência, tudo sobra para cima dos professores nas escolas para onde se atiram os alunos e se volta as costas à espera que, de preferência, morramos em serviço, para poupar dinheiro de pensão para as subvenções vitalícias de políticos e amigos.
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