Esta comentadora pensa que há duas correntes opostas sobre os exames: uma que defende que temos exames a mais e que isso amarra os professores ao treino de exames e outra que quer que os exames tenham mais peso na nota. Acontece que estas correntes não são opostas: uma delas é a consequência lógica da outra. A partir do momento em que há uma inflação óbvia geral das notas, segue-se-lhe a consequência lógica da desconfiança dos conhecimentos reais a que correspondem essas notas e exige-se exames que verifiquem o que não se quer que seja verificado, digamos assim.
Não há uma corrente que defende que há exames a mais e que isso retira liberdade aos professores. O que há é uma corrente, encabeçada pelo ministro da educação (com o apoio do primeiro-ministro e por isso o escolheu para o cargo) que tem como objectivo melhorar as estatísticas do número de retidos com reduções milagrosas, para cumprir metas europeias; mas como isso é muito difícil, porque implica investimento na escola pública e tempo (as coisas na educação levam tempo a produzir resultados), arranjaram uma maneira de as conseguir por via administrativa: não há verificação de aprendizagens e passam todos.
E isso é o que aconteceu desde que este Costa foi SE e decidiu as políticas da educação mais aquela Leitão que tinha por missão ressequir economicamente a escola pública. O desastre é todo dele, o Brandão era um cabide que ali andava. Para além de melhorar as estatísticas (e o seu currículo) o fim dos exames possibilita a passagem da educação para as autarquias, o que se sabe que vai baixar ainda mais o nível da escola pública - sem nenhuma verificação isenta e de interesse público.
É claro que a ministra do ensino superior, que é uma pessoa de uma outra categoria muito acima do ME, percebe tudo muito bem e não quer o nível das universidades a baixar ainda mais do que está (por causa da falta de dinheiro), à conta das vaidades de currículo de Dupond & Dupond.
Neste momento a situação é esta: embora nunca a tenhamos visto, sabemos que o ministério da educação tem uma espécie de lista negra das escolas. Sempre foi assim, não é invenção deste ministro.
Uma parte grande do trabalho da direcção é preencher plataformas com informação de todos os professores: quantas turmas/alunos têm; quantas notas positivas e negativas cada um atribui, o que cada um diz e faz e se espirrou às 3 da tarde e por aí fora. Na mudança de ministro nota-se imediatamente as regras supremas de cada um que fazem as escolas irem parar à lista negra. Por exemplo, no tempo da Lurdes Rodrigues os papéis apareciam com esta frase escrita, explícita, 'os critérios economicistas sobrepõem-se sempre aos critérios pedagógicos'. Evidentemente isto mudou logo a maneira de se trabalhar nas escolas.
Tenho os meus critérios de avaliação, que naturalmente fui ajustando e corrigindo ao longo do tempo, mas que não têm variações dramáticas porque no essencial, o que se mostra adequado, mantenho. (dantes era mais fácil ajustar os critérios porque os alunos iam todos a exame e isso era uma maneira de avaliar a adequação dos meus próprio critérios - eu e todos os professores que se prezam e levam o trabalho a sério tínhamos a preocupação de que os alunos, no geral, tivessem no exame uma nota semelhante à da disciplina). Portanto, não vario muito a avaliação e não vou atrás de modas só porque a tutela viu uma cenas que acha 'giro' aplicar ou porque quer impor ideologias. Ora, como no tempo de Crato não se podia dar boas notas que ia-se logo parar à lista negra, eu e outros colegas que mantemos critérios devido a auto-avaliações e não a modas ou ideologias políticas somos acusados, à vez, ou de dar notas muito altas ou muito baixas, consoante está lá um ministro ou outro.
Cada ministro que vem muda completamente a dinâmica de escola, sem nenhum préstimo duradouro. O outro a seguir deita tudo para o lixo e guarda apenas o que lhe aumenta o poder de controlo dos professores, o que é uma pena... A Lurdes Rodrigues estava-se nas tintas para os alunos e só queria economizar. Crato queria exames a tudo e mais alguma coisa e até quis que os professores fizessem exames de coisas que já se interiorizou e sintetizou de modo tão eficaz que já se esqueceu a regra, como acontece com o nome das regras da gramática utilizadas no escrever. Uma coisa anti-pedagógica e ridícula. Queria humilhar os professores. Isso é o que todos os ministros desde a Rodrigues têm em comum: querem humilhar os professores. Este agora, é o extremo oposto do Crato e o que quer é: 1º poupar dinheiro como a Rodrigues e, 2º que ninguém o possa responsabilizar pelas suas próprias políticas verificando se elas são meras passagens administrativas.
Voltando à vaca fria, hoje-em-dia, numa reunião de avaliação do básico, os alunos que teriam 1 ou 2, têm 3, para passarem de ano; naturalmente, para não provocarem grandes injustiças, os professores passam os 3s para 4 e os 4s para 5. Depois, ainda há os professores que querem ser populares com os alunos ou que moram em Guimarães e estão a dar aulas em Beja e sabem que essa distância prejudica muito os alunos e compensam subindo notas. Como há incentivo do ME para o despesismo com as notas, os alunos chegam ao 10º ano cheios de 4s e 5s que corresponde a 2s ou 3s. Apanhamo-los no 10º ano e as primeiras classificações que conseguem são de 4 ou 5, mas em 20. Vamos ver as notas do exame do 9º ano, a matemática, por exemplo e tiveram 11%... mas como vêm com 3 ou 4 de nota, matriculam-se numa turma de ciências naturais e exactas porque pensam que estão no nível de aprendizagem 4 ou 5 - que foi a nota que tiveram na pauta. Bem, agora, à conta disso, o ministro da educação está a pôr uma tremenda pressão para que os professores do secundário imitem os do básico. Para isso já reduziu as aprendizagens ao mínimo e quer acabar com os exames porque nos exames isso tudo se vê: um aluno tem 5 a matemática no 9º ano e vai ao exame tirar 11%... e é o que se verá no secundário: ir a exame com 16 e tirar 4. E lá se vai a demagogia dele...
Como recusam investir na educação e não há milagres de teres óptimos profissionais que aceitem ser tratados como porteiros de discotecas em escolas sem condições (e ganharem como tal ou menos), fizeram dela um travesti para parecer que está tudo bem, mas quem tem dois dedos de testa, penso que percebe que estarem perto de 140 mil professores de todos os quadrantes políticos, mais funcionários e técnicos, unidos no 'partido da educação', é sinal de qualquer coisa muito séria e grave.
Há muita coisa na educação actual no nível da perfeita e chocante rebaldaria e é evidente que o ministério não quer verificações porque a situação resulta deste relaxamento que vem de cima. Disso não vou falar que não preciso de mais problemas do que já tenho, mas só digo que se não fossem os professores e nomeadamente aqueles que são do tempo da escola de gestão democrática, as coisas estavam num desastre muito pior. Daí que queiram estes novos professores sempre precários para não se poderem dar ao luxo de abrir a boca - e para poupar dinheiro.
A ministra do ensino superior que, desconfio, não seja a favor de rebaldarias, não confia nos cânticos de vitória do colega manhoso da escola e quer verificação independente. Percebo-a muito bem e o que ela defende não é uma corrente oposta do que o outro defende. Ela vem da área das ciências experimentais e está habituada a confiar na medicina tradicional e não na medicina alternativa, digamos assim.
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