February 12, 2023

Corrijam-se se estou enganada, mas a democracia não é um sistema em que se ouve o povo e representa o povo?

 

E em que ouvir e representar o povo não é apenas contar votos no dia da eleição ou dizer que tinham qualquer coisa escrita no programa de governo. Não é como se o povo, antes de votar, pudesse discutir e negociar cada proposta dos pretendentes a deputados e a governo e depois nas urnas, votasse proposta a proposta. Vota-se num partido para uma certa orientação, mas não é um endosso de todas as ideias, propostas e caminhos que os programas de governo têm.

Por conseguinte, os governantes têm que ir auscultando as pessoas e os grupos sociais e fazendo os acertos necessários para que mantenham a representatividade e esta não se torne numa palavra vácua, usada como estratégia da política enquanto um jogo de interesses em vez de uma maneira de melhorar a vida das pessoas, para além dos partidos, amigos e familiares. Quando os governos não se interessam em ouvir e/ou representar as pessoas, isso chama-se autoritarismo ou ditadura.

Ontem, estiveram na manifestação mais de 150 mil pessoas, de maneira que podemos dizer que, grosso modo, lá estiveram todos professores do país, mesmo que tenham faltado uns mil ou dois mil, pelas mais diversas razões. É irrelevante.

Seria normal que face a estes números de um grupo de pessoas que incluem gente da ponta mais à direita à ponta mais à esquerda, e sendo a terceira vez em pouco mais de três semanas que mais de 100 mil professores vão à capital dizer ao governo e ao país que têm de olhar para os professores e para a educação, seria normal, dizia, que o primeiro-ministro se pronunciasse. Que ouvisse os professores. Que pensasse que talvez esteja a fazer alguma coisa mal.

Porém, do primeiro-ministro temos apenas um olímpico desprezo silencioso. Uma total indiferença. O ministro da educação nem sequer se dá ao trabalho de aparecer em certas reuniões. Manda o assistente com as mesmas frases de sempre, como se 150 mil pessoas não tivessem falado.

O Presidente da República, que é eleito directamente pelo povo, também tem um olímpico desprezo silencioso sobre os professores e a única vez que falou foi para fazer uma espécie de ameaça velada de virarem a sociedade contra os professores. 

Corrijam-se se estou enganada, mas a democracia não é um sistema em que se ouve o povo e onde as políticas representam o povo e resolvem os seus problemas? E se se não ouve ou ouve mas despreza a voz das pessoas, afinal quem é que os governantes representam? E que sistema temos agora a substituir a democracia?


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