Hypatia, tela de Julius Kronberg (1889)
O último cientista que trabalhou na Biblioteca foi uma matemática, astrónoma, física e chefe da escola neoplatónica de filosofia - uma gama extraordinária de realizações para qualquer pessoa em qualquer idade. O seu nome era Hipátia. Nasceu em Alexandria, em 370.
Numa altura em que as mulheres tinham poucas opções e eram tratadas como propriedade, Hipátia movia-se livremente através dos domínios masculinos tradicionais. Como neoplatonista, pertencia à tradição matemática da Academia de Atenas e era da escola intelectual do pensador neoplatónico, Plotino.
Hipátia era filha de Téon de Alexandria, um renomado filósofo, astrónomo, matemático, autor de diversas obras e professor em Alexandria. Criada em um ambiente de ideias e filosofia, tinha uma forte ligação com o pai, que lhe transmitiu, além de conhecimentos, a forte paixão pela busca de respostas para o desconhecido. Ficou famosa por ser uma grande solucionadora de problemas. Matemáticos, confusos com algum problema em especial, escreviam-lhe pedindo uma solução.
Teve muitos pretendentes mas rejeitou todas as ofertas de casamento e quando lhe perguntavam por que jamais se casara, respondia que já era casada com a verdade.
A Alexandria do tempo da Hipátia, sob domínio político romano, era uma cidade em grande tensão. A escravatura tinha esvaziado a civilização clássica da sua vitalidade. A crescente Igreja Cristã estava a consolidar o seu poder tentando erradicar a influência e cultura pagãs. Hipátia estava no epicentro destas poderosas forças sociais. Cirilo, o Arcebispo de Alexandria, desprezava-a devido à sua grande amizade com o governador romano e porque ela era um símbolo de aprendizagem e de ciência, que eram amplamente identificadas pela Igreja primitiva com o paganismo.
Sob ameaça e em grande perigo pessoal, continuou a ensinar e a publicar, até que, no ano 415, no seu caminho para o trabalho, foi atacada por uma multidão fanática de paroquianos de Cirilo. Arrastaram-na, arrancaram-lhe a roupa e armados com conchas abalónicas, lapidaram-na e esfolaram-lhe a carne dos ossos. Os seus restos foram queimados e as suas obras foram todas destruídas para que o seu nome fosse esquecido. Cirilo foi transformado num santo.
"Morte da filósofa Hipátia, em Alexandria" do Vies des savants illustres, depuis l'antiquité jusqu'au dix-neuvième siècle, 1866, por Louis Figuier
E é um dos Doutores da Igreja, o que não deixa de surpreender.
ReplyDeleteNão surpreende nada. Ser doutor da Igreja (ou santo) e ser uma pessoa violenta e imoral era perfeitamente compatível.
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