January 23, 2023

Telmo Correia, não por acaso um dos responsáveis pelo desaparecimento do CDS

 


É mais um que diz que os professores têm toda a razão mas que não devem chatear a sociedade e devem queixar-se no formulário nº 5 em vez de andarem a fazer oposição às políticas desastrosas do ME. Não fica bem, é indecoroso. Somos atípicos. Uma maçada... E como agora já não podem dizer que andamos todos às ordens do Mário Nogueira, a quem ele reconhece a virtude de fazer greves inócuas, diz que estamos todos, os 140 mil professores 'bloqueados', quer ele dizer, instrumentalizados pelo Bloco de Esquerda. Estas pessoas fazem-me lembrar o Cardeal Belarmino que no tempo do Galileu, ao olhar pelo telescópio para o sol, via tudo (Deus, o brilho dos astros, os anjos em coro...) menos as manchas que lá estavam, mesmo em frente do seu nariz, a mostrar que o astro era matéria. Telmo Correia, não por acaso um dos responsáveis pelo desaparecimento do CDS. É também assim que o ME, que nem sequer toca nas principais reivindicações dos professores, sai das reuniões a dizer que houve entendimentos muito bons e que está tudo bem.



Professores atípicos

Telmo Correia


Quando, em Maio de 2019, o primeiro-ministro, António Costa, ameaçou demitir-se face a uma “coligação negativa” que então se juntou para aprovar a contagem integral do tempo de serviço dos professores, a opinião pública acabou por, de certa forma, ficar do lado do Governo, e os partidos parlamentares do centro-direita, PSD e CDS, acabariam por recuar na sua intenção.

Vários analistas consideraram mesmo, e isso foi também argumento na disputa interna, que em particular a liderança do CDS, à época protagonizada por Assunção Cristas, tinha cometido um erro (admitido pela própria) ao colocar-se do lado da Fenprof e que isso teria sido até um dos factores determinantes na penalização eleitoral do partido. Embora quem mais usou este argumento fosse quem, desastradamente, conduziria depois o CDS ao seu afastamento do normal convívio parlamentar e da votação destas e doutras matérias.

Lamentável. Mas esse não é o nosso tema. O que nos importa hoje é verificar que, depois disso, o PS obteve mais votos e, finalmente, uma maioria absoluta; que os partidos à sua esquerda perderam peso e relevância; que a direita não beneficiou em nada da revisão de posição; e, sobretudo, que a questão continua igual, ou pior.

Ou seja, que nada foi feito e que continuam por resolver questões como a das carreiras ou a da colocação de professores. Continuamos a assistir constantemente às queixas de professores colocados a centenas de quilómetros das suas residências e famílias - uma questão que, basta olhar para o que se passa em países vizinhos, já podia e devia ter tido melhor solução.

Nesta questão, como nas outras, existe óbvia razão de queixa dos professores: pouco protegidos, pouco respeitados e valorizados. E existe, simultaneamente, incapacidade do Governo e do ministro para lidar com o que devia estar resolvido.

Questão diferente é a dos protestos, a forma escolhida de contestação e o recurso a greves atípicas. As greves atípicas são, por definição, uma forma de guerrilha e de causar um dano superior ao razoável. Só que, neste caso, o dano maior é para a comunidade educativa, para os alunos e para as suas famílias.

Se a causa dos professores é justa e nos merece simpatia, este “novo sindicalismo” radical, irascível, nascido de forma inorgânica e, depois, “bloquizado”, não nos merece nenhuma. Ouvir alguns dos seus responsáveis é, de resto, preocupante. Não tanto pelo radicalismo ou por percebermos a instrumentalização da extrema-esquerda mas, sobretudo, por pensarmos que a formação das nossas novas gerações está entregue a tão atípicas personagens.

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