Professores atípicos
Telmo Correia
Quando, em Maio de 2019, o primeiro-ministro, António Costa, ameaçou demitir-se face a uma “coligação negativa” que então se juntou para aprovar a contagem integral do tempo de serviço dos professores, a opinião pública acabou por, de certa forma, ficar do lado do Governo, e os partidos parlamentares do centro-direita, PSD e CDS, acabariam por recuar na sua intenção.
Vários analistas consideraram mesmo, e isso foi também argumento na disputa interna, que em particular a liderança do CDS, à época protagonizada por Assunção Cristas, tinha cometido um erro (admitido pela própria) ao colocar-se do lado da Fenprof e que isso teria sido até um dos factores determinantes na penalização eleitoral do partido. Embora quem mais usou este argumento fosse quem, desastradamente, conduziria depois o CDS ao seu afastamento do normal convívio parlamentar e da votação destas e doutras matérias.
Lamentável. Mas esse não é o nosso tema. O que nos importa hoje é verificar que, depois disso, o PS obteve mais votos e, finalmente, uma maioria absoluta; que os partidos à sua esquerda perderam peso e relevância; que a direita não beneficiou em nada da revisão de posição; e, sobretudo, que a questão continua igual, ou pior.
Ou seja, que nada foi feito e que continuam por resolver questões como a das carreiras ou a da colocação de professores. Continuamos a assistir constantemente às queixas de professores colocados a centenas de quilómetros das suas residências e famílias - uma questão que, basta olhar para o que se passa em países vizinhos, já podia e devia ter tido melhor solução.
Nesta questão, como nas outras, existe óbvia razão de queixa dos professores: pouco protegidos, pouco respeitados e valorizados. E existe, simultaneamente, incapacidade do Governo e do ministro para lidar com o que devia estar resolvido.
Questão diferente é a dos protestos, a forma escolhida de contestação e o recurso a greves atípicas. As greves atípicas são, por definição, uma forma de guerrilha e de causar um dano superior ao razoável. Só que, neste caso, o dano maior é para a comunidade educativa, para os alunos e para as suas famílias.
Se a causa dos professores é justa e nos merece simpatia, este “novo sindicalismo” radical, irascível, nascido de forma inorgânica e, depois, “bloquizado”, não nos merece nenhuma. Ouvir alguns dos seus responsáveis é, de resto, preocupante. Não tanto pelo radicalismo ou por percebermos a instrumentalização da extrema-esquerda mas, sobretudo, por pensarmos que a formação das nossas novas gerações está entregue a tão atípicas personagens.
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