Isto também se aplica à escola pública e aos professores: 30 anos para construir, 3 para destruir. É fácil destruir. Estamos no rescaldo da destruição da Rodrigues. Ainda estamos nas ondas de impacto e nada do que se passa é surpresa para muitos de nós que há muito escrevemos sobre estes assuntos. E antes de nós outros, muito superiores em conhecimento e visão. Falo de Castoriadis, um filósofo grego do século XX, que escreveu um livro chamado, A Ascensão da Insignificância (que li lá pelo ano 2000) onde transcreve uma entrevista que lhe fizeram em 1993.
Castoriadis fala da decadência da civilização e pergunta se será possível esta sociedade continuar a funcionar e reproduzir-se, “quando em todas as sociedades ocidentais se proclama abertamente (e em França, cabe aos socialistas a glória de o terem feito de um modo que a direita nunca tinha ousado fazer [cá também*]) que o único valor é o lucro e que o ideal de vida social é o enriquecimento."Se assim fosse – diz ele – os funcionários deviam aceitar e pedir umas cunhas para efectuarem o seu trabalho, os juízes deviam leiloar as decisões dos tribunais, os educadores fornecer boas notas às crianças cujos pais lhes oferecessem um cheque e assim por diante. Em sua opinião só o medo da sanção penal os impede de assim proceder.
Castoriadis diz nesta entrevista que nunca como hoje foi tão urgente reinventar a sociedade, imaginar um outro sentido para a sua existência. E acaba este parágrafo com as seguintes palavras: O que podemos dizer é que todos aqueles que têm consciência do carácter terrivelmente grave do que está em jogo devem tentar falar, devem criticar esta corrida para o abismo, devem procurar despertar a consciência dos seus concidadãos.
É a terceira vez que falo desta entrevista e a 1ª vez foi em 2008, no outro blog. Já lá vão 15 anos a ver a ascensão da insignificância, tal qual como ele a predisse: enriquecimento pessoal como ideal de sucesso, cunhas, decisões dos tribunais poluídas pelo poder político, colégios/universidades privados que dão notas a troco de cheques.
* entre parêntesis rectos, comentário meu.
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