Professores unidos continuam a luta à margem dos sindicatos
Docentes convocam reuniões nos intervalos das aulas, plenários em dias de greve e até reuniões por Zoom "ao domingo à noite", , num movimento que dizem que "só parará" quando forem ouvidos.
Nuno e Margarida trabalham há vários anos a poucos metros de distância, em escolas diferentes, mas só agora se conheceram: Depois de várias mensagens trocadas por WhatsApp, o encontro aconteceu em janeiro, durante o cordão humano, que uniu a Escola Secundária Quinta do Marques à Escola EB 2/3 Conde de Oeiras.
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A 11 de janeiro, dia de greve, os portões da secundária não abriram. Mas, na sala de professores, realizou-se um plenário que durou cerca de duas horas, o tempo necessário para que mais de meia centena de docentes discutissem questões como as dificuldades em progredir na carreira mas também problemas do dia-a-dia na escola.
"Falámos sobre a falta de uma cantina, de um bar, de um pavilhão desportivo e de uma sala de convívio para os estudantes", explicou à Lusa Nuno Gameiro, que esteve no plenário.
Professor há 23 anos, Gameiro já passou por várias escolas, mas "nunca viveu nada assim": "Foi um momento muito democrático. Sentimos que, desta vez, a luta está nas mãos dos professores e não dos sindicatos".
"Houve um compromisso não com um sindicato mas sim uns com os outros, porque o descontentamento é real, as pessoas sentem que as reivindicações são justas e, por isso, não vamos parar de lutar", acrescentou Nuno Onça.
No plenário decidiu-se também fazer dois dias de greve e precaver que os trabalhadores mais frágeis não seriam prejudicados.
Na escola ao lado, na Conde de Oeiras, a história repete-se. "Há colegas meus que ganham o ordenado mínimo e outros que nem o salário mínimo ganham, e esses não podem fazer greve. Por isso organizamo-nos", disse a professora de Português Margarida Gil.
Mas, na sua escola, as reuniões têm sido de manhã antes das aulas começarem, ou nos intervalos, contou.
Em Odivelas, há ainda marcações de reuniões por zoom, ao domingo à noite, quando os professores já estão em casa, acrescentou a professora que pediu para não ser identificada.
Para o diretor da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, "a situação está no limite. Os professores estão unidos e não vão parar enquanto não forem ouvidos".
Margarida Gil é um desses exemplos. Nas últimas seis semanas, levanta-se todos os dias às seis da manhã para estar à frente da escola antes de alunos e pais chegarem, "faça chuva ou faça sol, esteja frio ou um gelo".
A professora de 59 anos é uma das manifestantes que desde dezembro está diariamente à porta da escola exibindo a faixa amarela com o dizer: "Professores em União para salvar a Educação".
À Lusa disse que não vai desistir, mesmo sabendo que poderá já não ser abrangida pelas conquistas da luta: "Não me importo. Luto pelos mais novos e não vou parar".
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