III
não sei dizer este azul que encaminha
os céus...
sei respirá-lo intenso
na vibração densa, descompassada
dos olhos que se entornam nele...
não sei morrer noutra cor.
antes esta tonalidade
assim-breve
assim-escorregadia
desintegrando a noite
reinventando o dia.
e eu...
eu não sei escrever este azul
que dá luz á manhã...
IV
há no silêncio do ar
uma paz autorizada...
um murmúrio lírico
no renascimento
de cada momento.
o pássaro brinca entre uma nota de assobio
e um sopro de vento.
a borboleta adormece — encantada.
(...)
para haver paz
há que caminhar silêncios.
— Ondjaki in TRAÇÃO A 4 POEMAS E UMA CORDA - 2002
(Prémio Literário Vergílio Ferreira 2023)
Um prémio merecido. Parabéns a Ondjaki. Mas, "dá luz à manhã", certo?
ReplyDeleteBom dia
Passei tal como está escrito. Como este autor tem um modo de dizer as coisas sui generis, talvez 'á manhã' seja uma ambiguidade entre 'amanhã' e 'à manhã'. Por exemplo, tem um livro de poesia chamado, "Há Prendisajens com o Xão", que tem de ser lido «à brasileira» para fazer sentido - fonético, não ortográfico.
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