January 29, 2023

A única coisa que cai do céu é a chuva. O resto é luta

 


Esta luta não é dos professores


MARTA RAIMUNDO



São dias a fio de greve, de cartazes, de gritos, de reportagens na televisão, sobre a infelicidade e as poucas condições que os professores têm para lecionar em Portugal.

Sem professores felizes e bem pagos, não há pessoas com literacia. Aliás, mais longe, sem professores com vocação, e que sejam recompensados pelo bom trabalho que fazem ao ensinar as camadas jovens, desde cedo, não há futuro.

Hoje, as universidades estão repletas de turmas com médias que envergonham os professores, porque, a falta de docentes é tão grande que qualquer nota serve para entrar. E no lado oposto, alunos medianos ou medíocres, seguem o curso de educação sem a vocação e alma pretendida. Num mundo ideal, todos seguem os seus sonhos.

A desorganização do processo de atribuição de escolas é tão grande que os do Norte dão aulas no Sul, e os do Sul dão aulas no Norte, tendo, portanto, de pagar para trabalhar. Se os salários são baixos, sair de casa e estar longe da família só complica a situação, a nível financeiro e mental.

Há uma degradação do respeito e dignidade dos professores, o que se observa nos casos de violência contra os mesmos, nos quais o sistema não os defende. O sistema defende sempre os agressores e os tribunais portugueses precisavam de uma grande volta.

A descrença na profissão é tão grande que já nem o Governo Socialista está a conseguir segurar os tão amados funcionários públicos que costuma ter debaixo da asa, dentro do bolso, calados com uns tostões a mais, que se contas se fizessem, são a menos no final do mês, por conta dos impostos altíssimos que se pagam. E nunca pagaram tanto. Congelamentos, quotas, escalões, três palavras mágicas que os docentes ecoam nas suas atuais greves.

Mas esta luta é dos professores? Esta é a pergunta. Estão os pais disponíveis para que a escola pública fique em níveis de miséria como o SNS? Disponíveis para que os seus filhos simplesmente não tenham aulas? Estão os próprios jovens cientes das reivindicações dos seus docentes e do pessoal não docente? Está a sociedade a par de que a maior parte dos professores ativos já tem idade para estar em casa e não a assegurar turmas, sempre com número superior de alunos do que aquilo que deveriam ter? E assim se deteriora a saúde mental e física de cada um, um pouco mais.

Esta luta reflete a precariedade nos profissionais da educação, mas vai além. É o bater com a porta, um pouco por todo o Portugal. É o dizer basta. É uma luta de todos, para um ensino melhor, para uma sociedade mais culta, mais evoluída. O querer um Portugal mais rico, em todos os sentidos.

Enquanto jovens centristas, esta luta também deve ser nossa, pois se uns são estudantes, outros pais e outros futuros pais, este não é o país, deteriorado, em que queremos viver, nem a forma de Governar, atirando areia para os olhos das pessoas e os problemas para debaixo do tapete, com que queremos compactuar.

Ontem, dia 24 de janeiro, assinalou-se o 𝗗𝗶𝗮 𝗜𝗻𝘁𝗲𝗿𝗻𝗮𝗰𝗶𝗼𝗻𝗮𝗹 𝗱𝗮 𝗘𝗱𝘂𝗰𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼, declarado pela ONU, com o objetivo de sensibilizar todos para o cumprimento do direito à educação, sendo este um pilar do desenvolvimento social. Portugal está tudo menos a desenvolver-se positivamente.

Pensemos no quão estruturante é esta profissão e no quão importante é termos uma sociedade capaz.

Vice-presidente da Juventude Popular de Setúbal

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