December 17, 2022

Filmes - "We fall in love the way you fall asleep: slowly, and then all at once.” (John Green)

 

Bones And All, o título deste filme, refere-se a um ritual de passagem que consiste em comer alguém até ao tutano, ossos e tudo -dizem-nos no filme- numa óbvia referência sexual. Este filme, que pensaríamos ser uma história de terror, é uma história de amor intensa (embora não bem conseguida, na minha opinião) e macabra, mas sempre no limiar do aceitável, dentro da lógica da transgressão. É quase todo acompanhado pelo som de uma guitarra em tom de balada. É claro que o canibalismo, palavra que nunca é referida no filme, tem conotação com o amor e a intensidade da assimilação do outro, mas também tem outras conotações que são afloradas no filme - a violência dos pais nos filhos, por exemplo. É-nos apresentada a ética desses transgressores, eaters, como se denominam uns aos outros e reconhecem instintivamente.
O filme está encostado àquelas grandes paisagens americanas do Midwest e à marginalidade das vidas fora dos carris na época de Reagan. Os interiores com aquela pobreza de paredes sujas amerelo-acastanhado vai bem com o tom do filme. A actriz que faz de Maren, a personagem principal -Taylor Russel- constrói uma personagem coerente, intensa e credível e é ela que dá credibilidade a todos os outros. É fenomenal. Só por ela vale a pena ver o filme. Põe a personagem a desenrolar-se à nossa frente. Mark Rylance é assustador, mas triste. Michael Stuhlbarg é só assustador. Chloë Sevigny tem um pequeníssimo papel, mas com um tremendo impacto. Como diz a certa altura do filme, 'só queria ser amada' e, lá no fundo, é o querem todos.


 

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