Triângulo da Tristeza é o nome que se dá à área entre as sobrancelhas, que muitos mantêm lisa com tratamentos de Botox. O filme começa com um casting de modelos masculinos. Um entrevistador pergunta a um deles como consegue trabalhar num meio onde as mulheres ganham muitíssimo mais e tem que andar constantemente a lidar com o assédio dos homossexuais que são a maioria e mandam nesse meio. Ele não lida bem com o facto de ser um homem sexualmente objectificado, um produto comercializável. Portanto, o início do filme diz-nos logo que vamos assistir a um mundo de pernas para o ar.
Este filme é uma comédia satírica, caricaturada e nada subtil, acerca da imoralidade dos super-super ricos. O filme tem três partes. Na primeira seguimos o tal modelo entrevistado e a namorada, uma super-modelo influencer de moda e de parvoíces, nas suas vidas de narcisistas que se comportam como se tivessem direitos especiais de não terem que pagar por coisa alguma da vida. Ela, sempre carregada de roupas e acessórios de super-marcas, confessa que quando já não puder trabalhar como modelo faz tenção de ser uma trophy wife.
Na segunda parte acompanhamos um cruzeiro de super-luxo em que este casal de modelos participa por ela ter ganho bilhetes de borla de uma super-marca. No cruzeiro estão personagens como, um casal idoso de bilionários que enriqueceu a vender minas terrestres e granadas de mão - ele queixa-se das restrições da ONU à venda de armas; um bilionário russo que se gaba de ser o King of Shit. Tem um monopólio de venda de adubos e produtos para a agricultura. Viaja com a sua trophy wife; um tipo que enriqueceu a fazer códigos informáticos para empresas de videojogos e outras vícios digitais; o capitão do navio que faz nada, só bebe, mas é marxista e passa a vida a citar Lenine, etc. Vemo-los na sua vida fútil e hipócrita a chatear os empregados. Nesta parte há uma cena de mais de 10 minutos em que num jantar com mau tempo e o barco a balouçar começam todos a vomitar. Assim que a realidade balança e há uma borrasca ficam logo doentes a vomitar? Alguns vomitam ouro... Enfim, o capitão, podre de bêbedo, deixa o iate nas mãos do oligarca russo e o iate naufraga - o que se passa na política do mundo real?
Na terceira parte do filme estão numa ilha e os sobreviventes, entre os quais, o casal de modelos, o informático, o oligarca russo, uma alemã, a chefe dos funcionários do iate e a responsável pelo saneamento, mais um ou dois entregam rapidamente o poder à funcionária das casa-de-banho porque é a única que sabe fazer lume e pescar peixe. Um retrato de uma sociedade onde os super-super ricos o são por falta de ética como pessoas e nos negócios e, o seu poder sobre os outros nada tem que ver com capacidades ou virtudes enraizadas, de maneira que rapidamente se desmoronaria numa situação de sobrevivência. De início as mulheres separam-se dos homens e mandam neles porque os homens não sabem fazer nada e só roubam comida, mas depois a funcionária das casas-de-banho promovida a chefe começa a exercer os seus privilégios de punição nos outros, de discriminação e de assédio sexual ao jovem modelo, numa muito óbvia referência ao dito do marquês de Dalberg-Acton, Power tends to corrupt, and absolute power corrupts absolutely.
O filme é interessante porque mostra a realidade debaixo do verniz social, mas às vezes é indigesto... a cena dos vómitos é nojenta... a cena do jovem modelo a pedir instruções à namorada sobre a melhor maneira de lidar com o assédio sexual das pessoas em posição de poder, não tendo dúvida nenhuma que a empregada das casas-de-banho vai querer que ele durma com ela em troca de favores de sobrevivência.
A actriz que faz de modelo, uma sul-africana de 32 anos, entretanto morreu, de maneira que o filme fica marcado por essa tragédia.
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