A sabedoria não é uma coisa que se receba de alguém e não é uma coisa que possa ser ensinada. Pode fornecer-se os instrumentos do pensar e mostrar o pensamento no acto de pensar -se não somos completamente desprovidos dessa arte.
Pensar é um termo que se diz em muitos sentidos porque várias operações intelectuais cabem no seu âmbito: discorrer, relacionar, imaginar, inferir, deduzir, calcular, etc. Por norma o pensamento de cada um é orientado por uma formação que o balizou e lhe deu um certo número de técnicas e hábitos que, por força do uso constante e propositado, acabam por penetrar todas as áreas da vida da pessoa. É assim que, sem querer, o biólogo vê em tudo processos dinâmicos vitais e o mecânico pense tudo como peças de uma máquina. Mas, o pensamento no seu sentido mais amplo de sabedoria não fica retido no domínio das técnicas e processos locais, antes vai mais longe, embora esse ir mais longe seja difícil de explicar, mas é um ir longe aos fundamentos e aos caminhos que vão desses fundamentos de volta às coisas, o que também implica uma educação particular do pensar, embora seja de uma natureza que pode aplicar-se a muitas áreas diferentes com proveito. Falo do pensamento filosófico.
Ontem estive o dia todo a classificar testes. Fiz um teste mais para pensar do que para escrever muito - confesso que também pensei em não levar tanto tempo a corrigi-los, o que se revelou um engano, porque perdi mais tempo a escrever em cada resposta o que foi mal pensado e porquê do que teria perdido se apenas tivesse que ler descrições. Dado que vivemos num mundo, já não de textos, mas de imagens e vídeos, os alunos perderam o hábito de ler continuamente, perderam vocabulário, logo, poder de conceptualização (também não conseguem interpretar a imagem), perderam o treino de concentração e de dar significado a cada conceito, quase não têm referências intelectuais, dada a orientação do ensino para a imagem, o vídeo, a brincadeira, o superficial, os sentimentos (talvez as pessoas não saibam mas os alunos dos dias de hoje pedem aos professores abraços e beijinhos e não é apenas no ensino básico, mas também no secundário), tudo em detrimento do pensamento, nomeadamente o pensamento crítico (que no entanto dizem ser um objectivo, mas claramente não é).
Quem desenha as políticas não compreende que o pensar crítico não se despeja em alguém, não se passa como numa corrida de estafeta e que nem todos têm os instrumentos do pensamento crítico. Na realidade, a maioria tem o pensamento formado numa orientação que é a da ciência ou da técnica prática que dominam e que nada tem de crítico. Pelo contrário. São formados em técnicas de verificação por acumulação, de assentimento, de soma de 'verdades', de indução sem falsificação, etc.
As redes sociais não ajudam e a maioria das 'discussões' online não passam de chamar nomes, fazer afirmações de princípio sem fundamento ou fazer petições de princípio ou citar alguém sem nenhum exame crítico. Depois levam esses hábitos para casa e os filhos levam-nos para as aulas e é preciso muito trabalho para desconstruir esses maus hábitos, sem o que, nada de construtivo se consegue.
Um esquema do nível qualitativo/crítico de uma discussão argumentativa com vista à progressão no conhecimento (e quem sabe, na sabedoria), seria mais ou menos assim, indo do pior (as zonas cinzentas, a evitar) ao melhor:
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